Tatá conta de um radiotelescópio que está sendo construído no sertão da Paraíba

ilustração: @paozinho_celestial
Por aqui já conversamos sobre muitas coisas, na verdade é mais um monólogo do que conversa mesmo. Massss, muita coisa já foi falada aqui e tem mais uma (na verdade tem um monte, porque eu sou a famosa boca de sacola: tô falando de tudo) que eu gostaria de trazer aqui para alegrar o dia de vocês.
Eu já falei sobre o GPS e sobre como eu acho importante que nós, brasileiros, criemos o nosso. E, nesse lenga-lenga de criarmos algo, finalmente chegou o nosso momento: estamos criando um radiotelescópio. Estava imaginando essa? Eu sei que não. Imagino que vocês estejam se fazendo muitas perguntas – e se não estão, eu aguardo para que façam.
Iniciando formalmente: bom dia, boa tarde ou boa noite para você, que incansavelmente está aqui me acompanhando. Hoje eu falarei sobre o BINGO, um rádio telescópio que está sendo feito no Brasil. Agora que já temos apresentações formais, a novidade já passou, e o que te falta é mais informação.
É óbvio que o nome BINGO não é realmente bingo de jogo, mas o que não é óbvio é o seu significado. O nome escolhido para o radiotelescópio, que está em construção, situado em Aguiar, na Paraíba, é um acrônimo para Baryon Accoustic Oscillation In Neutral Gas Observation (Observação de Oscilação Acústica de Bárion em Gás Neutro).
Os importantes apoiadores desse projeto são: o governo de São Paulo, através da Fapesp, o governo da Paraíba e o governo federal. Além, claro, dos apoiadores internacionais, sendo o principal a China. A USP que está coordenando o projeto, com o professor do Instituto de Física, Elcio Abdalla.
Eu conversei com esse professor há alguns dias e a previsão do término é outubro do próximo ano. É de grande interesse que ele fique pronto na data prevista, pois gerará muitos empregos, turismo para a cidade e, para estudantes como eu, projetos de mestrado e doutorado aqui no país.
Esse é um radiotelescópio único, projetado para fazer as primeiras detecções das Oscilações Acústicas de Bárions por meio de radiofrequência. A minha mente até se embola com tantas palavras assim e como são conceitos novos, vamos por partes e no fim, vai te parecer bem simples.
Apesar de estar no meio de uma explicação física, nós sabemos o que significa oscilação. Oscilação é um movimento contínuo de crescer e decrescer, sem quebras. Igual uma corda amarrada numa ponta que você mexe pra cima e pra baixo na outra ponta.
A próxima palavra é “acústica”, que significa som ou o estudo do som. Então, até agora, temos movimentos e sons. A última peça-chave é uma partícula subatômica (menor que um átomo) chamada de bárion. O nome vem de uma palavra grega que significa pesado. O nome te pareceu estranho? Quer apostar que você conhece um ou dois bárions? É bom você não ter apostado, porque tenho certeza que conhece sim: prótons e nêutrons, que compõem a maior parte da matéria visível no universo. Podemos seguir.
Oscilações Acústicas de Bárions são flutuações na densidade (ou seja, massa/volume) da matéria bariônica visível do universo causadas por ondas de densidade acústica no plasma primordial do universo quando estava se formando. De forma mais simples: são flutuações na matéria do universo, por exemplo os aglomerados de galáxias.
Quando pronto, o telescópio buscará mapear a emissão de hidrogênio neutro no universo por meio dessas oscilações acústicas que aprendemos. Assim, talvez possamos finalmente medir a contribuição de matéria e energia escuras, que ocupam a maior parte do universo, e das quais tão pouco sabemos. Descobrir o que elas são é o objeto de estudo de diversos físicos e cosmólogos. Será o Brasil que dará à Física a contribuição gigante de tal descoberta?