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A ecoansiedade ataca novamente

por | 17 set 2024

Após dias de céu enfumaçado em grande parte do país, colunista relata o desamparo frente à situação

Qualidade do ar e alertas de incêndio na manhã da terça-feira, 17 de setembro (fonte: IQAir)

Se você esteve mentalmente e psicologicamente bem nos últimos dias sendo morador de São Paulo, eu te dou parabéns, de verdade. O céu ficou cinza, o sol ficou vermelho, o cheiro de fumaça nos acompanhou todos os dias e ficou, literalmente, difícil de respirar. Acho que foi uma das primeiras vezes que todo mundo sentiu e percebeu que a mudança climática já está entre nós. São Paulo registrou, na semana passada, a pior qualidade do ar entre grandes cidades do mundo inteiro, superando Tel Aviv e Ho Chi Minh.

O cenário da cidade realmente me lembrou um filme de distopia. Ficar dias sem ver o céu azul ao mesmo tempo que o sol parecia uma bola vermelha no céu foi bastante assustador. Ficar com dificuldade para respirar, me sentir mal, ver as pessoas passando mal foi desesperador. E foi mais desesperador ainda perceber a inação do poder público frente a esse cenário de emergência, nem falo mais de crise, falo de emergência mesmo.

Dá raiva, sim. Dá vontade de gritar, de dizer “pelo amor de Deus, como vocês não estão fazendo um escarcéu para conter essa situação?”. Dá raiva ver o governo em reunião discutindo o “agro sustentável” enquanto o país INTEIRO está queimando. Dá desespero, dá uma sensação de desamparo e de falta de perspectiva. Dá medo de saber que daqui pra frente a tendência é só piorar. Dá mais medo ainda quando até o Carlos Nobre fala que está com medo do que está acontecendo.

Essa sensação, esse medo, esse pânico, têm nome. Ecoansidade. Dá muito medo, mesmo, pensar que o futuro vai ter cada vez mais casos de eventos extremos como o que aconteceu na semana passada. Dá muito medo saber que as ações que deveriam estar sendo tomadas não estão. Ao contrário, os governos jogam cada vez mais para o futuro o que deveria ter sido feito pra ontem. E é pior ainda quando a gente percebe que o meio ambiente e a questão climática talvez não sejam mesmo prioridade de vários governos por aí.

Acho que eu nunca estive tão apavorada. Tamojunto, Carlos Nobre. A falta de perspectiva e o receio de como vai ser o futuro realmente estão batendo na porta. A possibilidade de vivenciar mais inúmeras ondas de calor, mais diversas temporadas de seca realmente são muito angustiantes. E isso porque eu não tô nem mencionando outras cidades. Os rios da Amazônia nunca estiveram em níveis tão baixos. As pessoas não têm mais como se locomover, não têm mais como pescar, não têm mais como manter e preservar suas formas tradicionais de vida.

Lidar com a crise climática é uma emergência. E não pode ser só lidar com a crise climática no discurso. A gente tá cansado de discurso. De falação. De foto bonita. A gente precisa urgentemente de medidas concretas, eficazes, com bases científicas e que não andem na contramão do que tem que ser feito (alô, Presidente, vamos desistir logo da ideia de explorar petróleo na foz do Amazonas???? Passou da hora.)

Enquanto a gente lida com a ecoansiedade, enquanto a gente pendura toalha úmida na casa inteira e enquanto a gente sai pra comprar umidificador de ar, a gente também segue lutando. Porque é o nosso futuro que está em jogo aqui. E a gente não vai abrir mão dessa luta.

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