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O que a gente quer

Um dia desses, em uma conversa bem legal com a minha mãe, ela me perguntou “o que as juventudes querem?”. Confesso que, em um primeiro momento eu não soube responder. Acho que existem muitas juventudes, com muitos sonhos, desejos, angústias e vontades. Mas aí parei pra pensar e acho que encontrei uma resposta que pode representar um desejo comum e generalizado entre os jovens. A gente quer não morrer.

A real é essa mesmo. Sobreviver já tá bastante bom, pensando no tempo que vivemos. E falo de não morrer em diversos sentidos. A juventude, de forma ampla, gostaria muito de não morrer em decorrência da inação diante da crise climática. A juventude preta, pobre e periférica quer não morrer em uma operação policial, em chacinas recorrentes e em assassinatos que a gente sabe muito bem a causa. Imagino também que a juventude indígena gostaria de não morrer envenenada por mercúrio que vem do garimpo ou em tocaias criadas por invasores de suas terras.

É óbvio que existem muitas juventudes. Citei agorinha, pensando alto mesmo, três exemplos que me vieram à cabeça. E é claro que existem muitos outros sonhos que rondam os jovens do Brasil e  do mundo. Mas acho que o que a gente tá vendo por aí é uma juventude que, talvez, sonhe menos, queira menos e esperance (do verbo esperançar) menos, porque a realidade de um futuro a longo prazo parece distante. A real é que, quase todos os dias, a gente vê notícias de coisas que ameaçam nosso futuro. Dados da ONU apontam que, a cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil. O nome disso é genocídio. E é um projeto de país que tem como objetivo a eliminação de toda uma população, majoritariamente jovem. Como é que se sonha desse jeito? A gente quer viver.

Ao mesmo tempo, a gente tá vendo a concretização cada dia mais palpável da crise climática e a inação dos governantes. Na semana passada, o ministro das Minas e Energia declarou que “O Brasil vai explorar petróleo até se tornar um país desenvolvido”. Ministro, deixa eu te dizer. Não vai dar tempo de se tornar país desenvolvido explorando petróleo. Vai todo mundo morrer cozido antes disso. Em tempos de crise climática, o que a gente precisa é de uma transição energética justa e democrática. Como é que se sonha desse jeito? A gente quer viver.

Posso falar também da juventude indígena. Pra ficar só no povo Yanomami, um relatório recente demonstrou que indígenas de quatorze regiões da TI Yanomami possuem altos níveis de contaminação por mercúrio. Isso pra ficar só no concreto, nas doenças. Isso sem contar os altos níveis de suicídio entre jovens indígenas que veem constantemente seus mundos, suas cosmovisões e suas terras serem invadidas, depredadas e destruídas. A gente quer viver.

Veja bem, a ideia desse texto não é ser algo pessimista, destruidor de esperanças ou ter uma vibe meio “trombetas do apocalipse”. É pra ser um ponto de atenção sobre um país construindo uma geração inteira que está vendo seu futuro ser constantemente ameaçado. E sobre um país que precisa, com urgência, olhar para essa juventude, para o que está destruindo esse futuro e agir. Agir para garantir o direito desses jovens de viverem, de sonharem, de existirem em mil formas e expressões. Porque, no fim das contas, não existe um país sem sua juventude. A gente precisa estar aqui pra contar a nossa história

 

ilustração: Freepik

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