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Sonho que se sonha junto

Por Luiza Moura

Contrários a um modelo de desenvolvimento que está destruindo o planeta, mais de 50 movimentos da sociedade civil ocuparam a Paulista no Ato Pelo Clima, domingo, 18 de junho 

Luiza Moura e Messias Ferreira, porta-vozes da JRede – Juventude em Rede do Estado de São Paulo (foto: arquivo pessoal)

 

Olá, leitores, voltei! E é isso mesmo que vocês leram no título, nós voltamos a ocupar as ruas para defender as políticas socioambientais do Brasil. Nas últimas semanas, como eu relatei nos últimos textos, a boiada passou no Congresso Federal: aprovaram a MP do Marco Temporal, esvaziaram o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, quiseram explorar petróleo na foz da Amazônia e, quiseram também, afrouxar as normas de proteção da Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil.

Pois é, não tá fácil ser ativista socioambiental no Brasil. Mas tudo bem, a gente enfrentou quatro anos de governo Bolsonaro e não era agora que a gente ia perder o ânimo pra lutar contra esse Congresso do Apocalipse. E aí o que a gente fez? Isso mesmo, fomos para as ruas. No dia 18, domingo passado, mais de 50 movimentos da sociedade civil ocuparam a Avenida Paulista no Ato Pelo Clima. Envolveram-se na construção dessa manifestação movimentos estudantis, sociais, socioambientais, ONGs de proteção ambiental, partidos comprometidos com a causa climática e diversas pessoas que, mesmo sem uma organização propriamente dita, entenderam a importância da causa e foram com a gente pra Paulista.

É verdade, preciso confessar, tava com saudade de uma manifestação, sabe? De juntar as juventudes, juntar os meus amigos, botar a mão na massa, pensar na estratégia, produzir cartazes e faixas, inflar um globo imenso (pois é, teve essa) e ir pra rua pra defender aquilo em que a gente acredita. É exaustivo todo o processo, sim, a gente tem crise, dá vontade de chorar e as confusões no meio do caminho fazem a gente querer desistir. Mas, sempre, no final dos atos eu lembro do porquê eu faço o que eu faço. Do porquê eu escolhi batalhar por essa causa e porque eu acordo todos os dias com vontade de mudar o mundo.

Além disso, um pouquinho antes do dia do ato, eu terminei de ler o livro A vida não é útil, do pensador indígena Ailton Krenak. E, de verdade, fez muito sentido ir para uma manifestação depois de ter lido tudo o que ele escreve sobre a natureza, sobre a crise climática, sobre as tradições dos povos indígenas e sobre como nós estamos destruindo essas outras formas de vida. E pra que? Estamos acabando com tudo em nome de um desenvolvimento. E que desenvolvimento é esse? Passou da hora de admitir que esse modelo que se universalizou e que a maioria das pessoas, dos governos, dos estados, aceitou sem nem questionar está acabando com o planeta.

Nas palavras de Krenak: “Mas, se enxergarmos que estamos passando por uma transformação, precisaremos admitir que nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera terão que se dar de outra maneira”. SONHO COLETIVO DE MUNDO. Quando eu li esse trechinho, esse pedacinho ficou martelando na minha cabeça e foi isso que eu vi no ato da Paulista no domingo.

Gente, de todos os tipos, que acredita em outros mundos possíveis. Que sonha junto e que tenta colocar esse sonho em prática. A verdade é que eu não sei se ainda dá tempo de mudar tudo o que a gente precisa mudar pra conseguir salvar esse planeta aqui. Porque, para além de mudar práticas, precisamos mudar mentalidades: do agronegócio, do desenvolvimento a qualquer custo, desse deus intocável que chamaram de mercado.

Mas, a certeza que eu tenho é de que tem muita gente disposta a fazer isso acontecer. Gente que não sonha no singular, gente que constrói em conjunto e que tá com sangue nos olhos pra ver a mudança acontecendo. Afinal de contas, a política e as transformações também se fazem nos afetos, então, fica aqui também o meu agradecimento de coração a todos os meus amigos que caminham ao meu lado, que constroem comigo e que me lembram, diariamente, que eu não tô nessa loucura toda sozinha.

Juntos, a gente transforma. Juntos, a gente constrói outros mundos possíveis, porque como diria a Taylor Swift em ‘Change’: “Eles podem ser maiores, mas nós somos mais rápidos e destemidos”.


Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental

 

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