por Thaciana de Sousa Santos
A concorrência do vestibular maltrata os jovens, diz colunista
Já estamos no final de agosto e o ano tem passado em um piscar de olhos. É incrível pensar em como tanta coisa muda em um ano. Às vezes, tenho a sensação de que a minha vida não mudou nada, que ainda sou a mesma, que não amadureci, mas não é verdade. E pensando em quem eu sou hoje, pensei em quem eu era há um ano.
Há um ano eu estava estudando para a Fuvest – que por sinal, está com as inscrições abertas – e não sabia como seria o futuro. Estava cheia de inseguranças, expectativas e em algum momento, desacreditei na minha capacidade de passar.
A pandemia dificultou ainda mais o ensino público, que já é tão carente de investimentos. Eram tantos conteúdos que eu não entendia e não dava conta de acompanhar, tantas as aulas – o triplo de atividades -, ainda o cursinho on-line… Eu estava sobrecarregada.
Desde 2020 eu sabia que queria ir para a USP. Eu não tinha como pagar uma faculdade particular e também não queria – mesmo se ganhasse uma bolsa. Era uma escolha minha, e eu sabia que tinha que estudar muito, muito mesmo, para conseguir. E assim fiz. Fazia as atividades da escola e estudava o que podia por fora.
Até o momento, eu ainda não tinha decidido exatamente o que queria fazer, pensei em fazer engenharia física, física médica, física biomolecular e geofísica. Essas eram as minhas opções no segundo ano do ensino médio. Claro que quando batia a insegurança, eu logo pensava em fazer um curso de humanas. Demorei até escolher o que queria.
Lembro que no começo de 2021 eu ainda estava em dúvida, mas decidi que queria fazer física biomolecular. Hoje, pensando nisso, não entendo o que passava pela minha cabeça, já que sou um horror em biologia. Mas tudo bem, fiquei com essa ideia por alguns meses, uns quatro, talvez. E estudava com esse propósito. Assistia as aulas do cursinho, fazia simulados, provas antigas, li as obras obrigatórias da Fuvest (não todas, porque não sou de ferro) e foi assim até a primeira fase.
Em abril, eu decidi que faria física. Tomei essa decisão depois de uma aula de gravitação universal que assisti no cursinho e, finalmente, estava em paz com a minha escolha. Mesmo assim, tive vários questionamentos e surtos até a primeira fase. Eu sabia que passaria para a segunda porque a nota de corte era muito baixa. Depois que fiz a prova, estava confiante, a vaga era minha já. Chegando em casa, vi o gabarito oficial e era real, eu estava na segunda fase. Consegui uma bolsa em um cursinho particular, e fiz uma revisão (exaustiva) para a prova. Deixei de viajar, para ficar estudando.
Depois da segunda prova, eu não sabia o que fazer. Estudei a vida toda e, de repente, estava desempregada e ainda não tinha entrado na faculdade. Fiquei desesperada, cheia de questionamentos (de novo) e pensei que todo o meu esforço fora em vão.
O que eu senti, não foi algo exclusivo meu. O meu amigo Giovanni (falei sobre ele no texto anterior) também sentiu o mesmo. Mesmo estudando em escola particular, tendo todos os recursos possíveis e todas as chances para passar, em algum momento se questionou se passaria. Também fez cursinho para preencher lacunas do ensino remoto. Ele teve que lidar com a frustação de esperar a lista de espera e de não saber o que faria, se já fazia cursinho para tentar de novo ou se ia para outra faculdade.
Mesmo com realidades diferentes, nós experimentamos os mesmos sentimentos. A concorrência do vestibular maltrata os jovens. Fico pensando em quem quer medicina, como será que lida com esses sentimentos?
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua