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Pesquisadores criam modelo matemático para ajudar a entender a dispersão de gotículas

Estudo de universidades escocesas concluiu que não há relação linear entre o tamanho das gotículas e a distância que percorrem

Imagem: Mohamed Hassan / Pixabay

A dispersão de gotículas por uma pessoa ao respirar, falar, tossir ou espirrar é um fenômeno complexo que ainda requer muita pesquisa para ser bem compreendido. Em julho, um grupo de 239 cientistas lançou um alerta em carta aberta na revista científica Clinical Infections Diseases, defendendo que a transmissão do novo coronavírus por esse meio merecia mais atenção.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a importância do tema e acrescentou em sua página de perguntas e respostas um item sobre o assunto, “O que sabemos sobre a transmissão por aerossol?”. Os aerossois são gotículas menores – da ordem de micrômetros (ou mícrons), ou seja, milionésimos de metro – e, por isso, capazes de ficar suspensos no ar. A Organização chama atenção especialmente para procedimentos clínicos que podem causar dispersão das gotículas.

Agora, uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade Heriot-Watt e da Universidade de Edimburgo, ambas na Escócia, apresentou um modelo matemático desenvolvido para ajudar a entender o padrão da dispersão dessas partículas. O artigo foi publicado na terça-feira, 4, na revista Physics of Fluids, do Instituto Americano de Física.

Levando em conta a balística e o efeito da gravidade, o estudo dividiu as gotículas em 3 grupos – pequenas, médias e grandes – e concluiu que não há uma relação linear entre o tamanho delas e as distâncias que percorrem, as grandes e as pequenas vão mais longe do que as médias. Os tamanhos são determinados por uma complexa relação entre densidade das gotículas e seu comportamento quando suspensas em fluidos – para respiração leve, as consideradas intermediárias têm entre 3 e 138 mícrons; para respiração pesada, as intermediárias têm entre 7 e 414 mícrons; as pequenas e grandes são respectivamente as que estão abaixo e acima desse intervalo.

“Não podemos nos dar ao luxo de ser complacentes com as gotículas pequenas. EPI [equipamento de proteção individual] é uma barreira efetiva para gotículas grandes, mas podem ser menos efetivas para as pequenas”, avaliou Felicity Mehendale, co-autora do artigo. Como solução para ambientes clínicos, Mehendale teve a ideia de criar uma espécie de exaustor de aerossol, que a equipe de pesquisadores agora planeja manufaturar.

À esquerda: trajetos de gotículas pequenas, médias e grandes do paciente até o dispositivo de exaustão. À direita: distância horizontal máxima percorrida por gotículas de vários tamanhos com respiração pesada ou leve. O ponto vermelho indica o mínimo global em distância percorrida. Neste caso, o mínimo é atingido por gotículas entre 50 e 80 mícrons. (Crédito: Cathal Cummins)

“A física do fluxo de alguém tossindo é complexa, envolve jatos turbulentos e evaporação de gotículas, e a ascensão da covid-19 revelou as brechas no nosso conhecimento da física de transmissão e das estratégias de mitigação”, explicou Cathal Cummins, da Universidade Heriot-Watt, primeiro autor do artigo”.

Segundo Mehendale, uma melhor compreensão do comportamento das gotículas ajudará a “informar sobre as orientações de segurança para procedimentos geradores de aerossol e será relevante durante a atual e futuras pandemias, assim como para outras doenças infecciosas. Esse modelo matemático também pode servir como base para a modelagem do impacto da dispersão de gotículas por sistemas de ventilação existentes em determinados espaços clínicos”.

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