Por Luiza Moura
Num episódio do podcast Mano a Mano, a ativista indígena conduz o ouvinte por reflexões e ponderações sobre os povos que resistem no Brasil há mais de 500 anos
Txai Suruí rodou o mundo. A jovem ativista indígena conta com passagens por diferentes eventos nacionais e internacionais, incluindo alguns dos espaços internacionais mais importantes no que diz respeito a debates de clima e mudanças climáticas, como as Conferências das Partes das Nações Unidas. Em 2021 seu discurso na COP26 rodou o mundo e inspirou e emocionou ambientalistas e defensores das florestas que a ouviram dizer “[…] não é 2030 ou 2050. É agora”.
Foi com a mesma garra e com o mesmo discurso tocante que Txai falou ao podcast Mano a Mano, original do Spotify conduzido por Mano Brown no final do ano passado, no episódio que fechou a temporada de 2022. Conversando com Brown sobre diferentes e variados assuntos, como sua aldeia, seus pais, a ideia de colonização e diversos outros, Txai conduz o ouvinte por reflexões e ponderações sobre os povos que resistem no Brasil há mais de 500 anos.
Algo que chama atenção e que merece ser destacado: a ativista já mencionava, em dezembro de 2022, a crise humanitária e o verdadeiro genocídio que vem acontecendo com o povo Yanomami. A fala de Txai é um lembrete: os ambientalistas, os povos indígenas, a juventude climática e diversos outros segmentos da sociedade civil já denunciavam, há muito tempo, o que está acontecendo naquela região que está, literalmente, infestada de garimpeiros ilegais. Aliás, vale lembrar que no primeiro semestre do ano passado, uma grande campanha teve que ser mobilizada para que se localizassem os 25 Yanomamis desaparecidos em Roraima.
Outro momento da entrevista que merece destaque é aquele em que Mano Brown pergunta para Txai quem são os inimigos dos povos indígenas. Ela, com muita propriedade, menciona garimpeiros, grileiros, o agronegócio. Ao ouvir essa parte da conversa entre os dois me questionei muito sobre como minhas ações contribuem, mesmo que de forma indireta, para alimentar os inimigos dos guardiões das florestas. Quem produz a carne que nós comemos? Quem compra o ouro que os garimpeiros invasores retiram de terras indígenas? Os não indígenas precisam urgentemente começar a questionar suas ações, individuais e coletivas, que contribuem para o massacre das comunidades originárias brasileiras.
E já que estamos falando sobre a Txai é impossível deixar de falar sobre O território, filme que ela e sua mãe, Neidinha Suruí, uma mulher não indígena, mas que também é da floresta, de acordo com Txai, ajudaram a produzir. O documentário narra a história do povo Uru-eu-wau-wau e sua luta em defesa de sua terra, constantemente invadida por brancos.
O longa fez grande sucesso, foi exibido em diversos festivais e chegou a ser incluído na short list do Oscar, a maior premiação do cinema. Em tempo, é preciso relembrar Ari Uru-eu-wau-wau, amigo de infância de Txai, mencionado por ela no podcast e personagem do filme, assassinado por defender a floresta e suas terras. O crime segue, até hoje, sem respostas. Quem matou? E quem mandou matar?
Ouvir Txai Suruí é uma maneira de relembrar o por quê da luta. É relembrar que essa luta faz sentido e que a vida de milhões de pessoas está sendo diretamente afetada pela catástrofe climática. Ouçamos, então.
Para os interessados, Mano a Mano com Txaí Suruí está disponível no Spotify e o documentário O território está no Disney+, o serviço de streaming da Disney. Por fim, é possível encontrar o discurso da ativista na COP 26 no YouTube.
Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental