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O futuro é ancestral

Por Luiza Moura 

Atores fundamentais na luta pela preservação do clima e de um meio ambiente saudável,  os povos indígenas, comemorados ontem, são, de fato, os guardiões da floresta

Palmas (TO) – Representantes de diversas etnias brasileiras e estrangeiras assistem às demonstrações de esportes nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas ( Marcelo Camargo/Agência Brasil, 2015)

 

O dia 19 de abril é comemorado por ser o dia nacional dos povos indígenas. Os verdadeiros habitantes do Brasil, que ocupam essas terras há mais de 500 anos, possuem uma verdadeira história de resistência contra uma série de opressões. Colonialismo, guerras biológicas, escravização. E, sem sombra de dúvida, foram os pioneiros e seguem sendo até hoje atores fundamentais na luta pela preservação do clima e de um meio ambiente saudável.

Nesse sentido, é preciso compreender que a lógica dos povos indígenas para com a terra opera completamente fora da lógica do lucro. A terra não está ali para que seja explorada e, a partir dela, sejam extraídos produtos visando o lucro. A terra, para os povos indígenas, faz parte da cultura, da espiritualidade, do território. Ressalta-se, por exemplo, que os povos indígenas carregam no nome a nomenclatura de seu povo e, consequentemente, de sua terra. Além disso, justamente por conta dessa lógica não capitalista e não lucrativa, estudos já apontam que em locais com terras indígenas demarcadas há queda e redução brusca no desmatamento.

Sem dúvida, os povos indígenas são os primeiros ativistas socioambientais do Brasil. É interessante observar, porém, o quão tarde essas comunidades e povos passam a ocupar locais fundamentais para a proteção de seus povos e para a proteção ao meio ambiente. Foi somente em 2020 que o Brasil elegeu a primeira deputada federal indígena, a deputada Joenia Wapichana, da REDE Roraima. Aliás, a chamada “PEC mais urgente do mundo”, que garante um meio ambiente saudável como direito constitucional, é de autoria de Joênia. Wapichana, atualmente, presidenta da FUNAI, a primeira indígena a ocupar esse cargo

Além disso, foi somente em 2023 que se criou o Ministério dos Povos Indígenas, comandado por Sônia Guajajara, do PSOL São Paulo. Sônia, que já era coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, APIB, é reconhecida mundialmente por suas lutas. Além de estar como ministra de Estado, Sônia foi eleita deputada federal pelo estado de São Paulo, com muitas pautas de campanha tendo ligação direta com a preservação do meio ambiente e com ações contra a crise climática que já assola o planeta.

            Trago essas duas mulheres guerreiras como exemplo de muitas outras mulheres e homens indígenas que fazem da luta o seu cotidiano e que são os principais responsáveis pela proteção de diversas áreas do mundo e do Brasil. É com muito orgulho que eles devem ser chamados de guardiões da floresta. Não existe preservação ambiental sem a presença dos povos originários do Brasil. Mais do que isso, não existe Brasil sem a presença desses povos. Afinal, o Brasil é terra indígena. Os estrangeiros somos todos nós.

Além de ter povos indígenas no centro das políticas públicas, do poder e da discussão política, é fundamental e urgente aprender com seus modos de vida. É mais do que necessário que a humanidade construa uma outra relação com a terra, com a natureza, com os animais. O tempo urge e é fundamental construir uma outra lógica de progresso e desenvolvimento, lógica essa que não envolva o extrativismo como pilar. Que não dependa de grandes obras absurdas e problemáticas, que afetam diretamente a vida de povos indígenas e de comunidades tradicionais, como a usina de Belo Monte, apelidada pelos moradores da região de Usina de Belo Monstro.

Assim, para se construir esse outro modo de vida é fundamental que se ouça os povos indígenas e que se aprenda com eles, que vêm mostrando há mais de 500 anos, que outros modos de vida são possíveis e que outros futuros só poderão acontecer se nós mudarmos a nossa lógica de vida imediatamente. Porque, afinal de contas, o futuro é ancestral.


Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental

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