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A culpa é dos bilionários

por | 20 ago 2024

Colunista questiona propagandas que buscam responsbilizar pessoas comuns pela crise ambiental

A cantora pop Taylor Swift, cujas emissões de carbono por viagens de jatinho recebem mais atenção do que as de outros bilionários (foto: Eva Rinaldi — CC BY-SA 2.0)

Você provavelmente já viu e ouviu aquelas propagandas sobre sustentabilidade que te pedem para “tomar banhos mais curtos” ou para “fechar a torneira na hora de escovar os dentes” e até mesmo “separar o seu lixo em casa”. Sem sombra de dúvidas essas são ações importantes, que podem ser feitas para diminuir o gasto de recursos naturais e até para todo mundo sentir que está fazendo alguma coisa para salvar o planeta. Só que a grande verdade dos fatos é que essas ações resolvem muito pouco ou quase nada do problema da crise climática, social e ambiental que nós estamos vivendo.

Minha melhor amiga, que eu conheci graças ao ativismo, ama dizer que não existe resposta individual para um problema coletivo. E ela está certíssima. Com todo o respeito, não vai adiantar nada você tomar um banho de dois minutos e gastar pouquíssima água escovando os dentes enquanto, de acordo com o Le Monde Diplomatique, “estima-se que cerca de 50% da água para uso setorial (ou seja, de acordo com o uso por setor da economia) é usada na irrigação agrícola, e 8,4% é usada diretamente na criação de animais, embora haja dados que apontam que esses valores cheguem a 66,1% e 11,6%, respectivamente.”

Vamos seguir olhando os fatos. A verdade é que eu, você e todas as pessoas que levam uma vida normal são muito menos responsáveis pela realidade climática do que os bilionários que emitem carbono em níveis absurdos. Sim, gente. Nós, pessoas normais, estamos muito mais perto de sermos refugiados climáticos do que de sermos bilionários. Preocupante, né?

Uma matéria de 2023 da CNN Brasil mostrou que: “O 1% mais rico da população mundial (77 milhões de pessoas) foi responsável por 16% das emissões globais de dióxido de carbono (CO₂), um dos principais gases do efeito estufa, em 2019. Esse valor equivale à mesma quantidade emitida pelos 66% ou dois terços mais pobres da humanidade (5 bilhões de pessoas).”

Ou seja, estamos lidando com uma crise que também escancara o quão desigual é a realidade. As grandes indústrias, empresas, os bilionários e milionários querem que nós sintamos essa culpa, de que estamos destruindo o planeta e que as nossas pequenas ações cotidianas vão resolver e nos tirar desse buraco. Não vão. Ações individuais até são importantes para gerar uma certa consciência individual, que pode até servir de exemplo para mais pessoas, mudando minimamente as consciências individuais. Mas a verdade é que ou a gente muda esse sistema, inclusive responsabilizando grandes empresas e grandes bilionários, ou o sistema vai engolir a gente.

Um estudo da Oxfam publicado em 2022 mostrou que: “Um bilionário emite um milhão de vezes mais gases de efeito estufa do que uma pessoa comum” . Um milhão de vezes mais. Entenderam agora por que as responsabilidades não são as mesmas e por que os nossos banhos curtos vão só fazer cócegas na crise climática? A ideia desse texto não é fazer com que vocês parem de realizar pequenas ações cotidianas com a intenção de melhorar a nossa relação com a natureza.

Mas é urgente que todo mundo comece a entender que existem um buraco muito mais embaixo, uma real problemática sistêmica, uma forma de ver e construir o mundo que nos trouxe até aqui. E só a mudança de perspectiva e visão sobre esse mundo, com ações reais e concretas, pode de fato transformar a nossa realidade.

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