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Mais um texto (inadiável) sobre desastres

Por Luiza Moura

Colunista reconhece estar sendo repetitiva, mas manifesta esperança de que a insistência de muitos na relação direta entre grandes desastres naturais e crise climática impulsione a ação para frear os ataques ao meio ambiente 

Ciclone atingiu cidade gaúcha de Roca Sales, uma das mais atingidas no Rio Grande do Sul. (7 de setembro de 2023 – AFP – Silvio Avila)

 

Que toquem as trombetas das más notícias e do pessimismo porque eu cheguei com mais um texto pra falar sobre como a crise climática já está afetando a vida de milhões de pessoas ao redor do globo. É verdade que já escrevi vários textos aqui falando sobre a urgência de agir e sobre como a crise climática já escancarou a porta e entrou com os dois pés no peito, afetando a vida de tanta gente. Talvez eu esteja repetitiva. Mas, talvez, se eu falar sobre isso de forma exaustiva, alguém ouça as nossas reivindicações e comece de fato a agir. Quem sabe?

Esta semana, vários fenômenos naturais assolaram os noticiários: o terremoto no Marrocos foi um deles. Mas, dois desastres se destacaram: as tempestades no Rio Grande do Sul e também na Líbia, no norte da África. Em ambos os casos, o cenário é trágico e desastroso. Milhares de pessoas desabrigadas, milhares de mortos. E, quem sobreviveu, perdeu casas, móveis, familiares, histórias e memórias em locais das cidades afetadas.

No Rio Grande do Sul, as cidades de Muçum e Roca Sales se viram literalmente debaixo d’água depois de fortes chuvas fazerem o nível da água dos rios subirem de forma anormal. Ah, e é bom lembrar, a gente ainda tá (teoricamente) no inverno. Não é estação de pancadas de chuva. Imaginem no verão…. Já na Líbia, a tempestade tropical deixou mais de dez mil pessoas desaparecidas, milhares de desabrigados e uma quantidade gigante de mortos – estima-se agora mais de 11 mil.

A verdade é que eventos climáticos extremos, de certa forma, sempre aconteceram. Mas o que ocorre é que esses desastres estão se tornando cada vez mais comuns. Mais frequentes. E não estamos falando só de chuvas. Lembram das ondas de calor no verão da Europa? Os países pegando fogo e pessoas passando mal por não estarem conseguindo resistir às temperaturas brutais? E não esqueçamos jamais da população do litoral norte de São Paulo que até hoje não se recuperou cem por cento das fortes chuvas de fevereiro. E, vale lembrar, gente. O El Niño tá aí… E os efeitos ainda vão ser sentidos, pelo menos, até o final do ano. No Brasil, teremos mais secas e mais ondas de calor.

Claro que as ações posteriores às tragédias são fundamentais. Que bom que o governo federal vai enviar uma ajuda de R$ 741 milhões em recursos para o Rio Grande do Sul. Mas onde estão as ações para evitar essas tragédias? Precisamos (com urgência!!!!) de ações de adaptação e mitigação para as cidades e campos brasileiros para que situações como essa possam impactar menos a vida das populações.

No âmbito internacional, o que a Líbia vem conseguindo fazer para prevenir as manifestações da crise climática? Será que não está na hora de retomar a discussão iniciada na COP-27 sobre um fundo global para perdas e danos sofridas por países em desenvolvimento? Será que não passou da hora de os países do Norte Global admitirem seu maior envolvimento com as causas da crise climática?

Finalizo esse texto retomando o que eu disse no começo: eu sei, é chato repetir que é urgente, que os problemas já estão aí e que a gente precisa começar a agir agora porque, se não, não vai dar tempo. Nós, os ativistas, já estamos gritando isso faz algum tempo. Acho que a nossa repetição é, como eu disse, uma tentativa de fazer com que nos escutem. Nos escutem. Nos escutem. Nos escutem.

Aproveito para repetir também o que já disse em um texto que escrevi aqui sobre o desastre no litoral norte, parafraseando uma frase icônica de Greta Thumberg: “Ajam como se a casa de vocês estivesse inundando. Porque ela está”.


Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental

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