A história em quadrinhos “Testemunho de seu Casemiro, da Aldeia Guarani O’Coy”, é criação de Lara Milan e Nara Lacerda Ferreira, duas adolescentes de 15 anos, estudantes do 1º ano do ensino médio da Escola Viva, em São Paulo. Faz parte de um bem elaborado relatório do trabalho de grupo que, depois de uma visita de estudos a Foz do Iguaçu, entre 14 e 16 de agosto, as duas garotas e mais dois colegas entregaram, em outubro, aos professores envolvidos no projeto.
Chamou-me a atenção a concepção da HQ, linguagem muito afim com o espírito do Ciência na rua, e encantaram-me as aquarelas que sustentam a narrativa. Isso e mais a relevância do tema, num tempo em que as comunidades indígenas do país, historicamente tão massacradas, com nações inteiras exterminadas desde o século XVI até o século XX, voltam a ser violentamente ameaçadas por ganância e uma política com traços genocidas, levaram-me a pedir a Lara e Nara (e a seus pais, claro) autorização para reproduzi-la em nosso site e redes sociais.
Lendo depois o relatório final dos adolescentes, qual o caráter, de fato, multidisciplinar e transdisciplinar do projeto de estudos fica tão evidente, minha vontade de publicar a HQ só se ampliou — porque se trata de uma expressão rica de um aprendizado de base igualmente rica. Reproduzo trechos do primeiro parágrafo da introdução, que não deixa dúvidas a respeito (e, sim, é texto firme e vibrante de jovens estudantes levados a pensar):
“Nos dias 14, 15 e 16 de agosto, os alunos da 1ª série do ensino médio da Escola Viva visitaram Foz do Iguaçu, levando objetos de estudo e questões norteadoras relacionados a todas as disciplinas, mas principalmente às ciências da natureza e Projeto. Quanto à hidrelétrica de Itaipu, a matéria em destaque foi Física, no que se refere à energia potencial e mecânica da água e sua conversão em energia elétrica. No entanto, os impactos da construção da represa da usina foram trabalhados através de Biologia (interferência na fauna e na flora) e Geografia (expulsão dos povos indígenas de seu território)”.
Especificamente sobre a visita aos O’Coy, o relatório explica que aí “a matéria de Geografia foi o foco”. Tratava-se de “entender as relações de diversos povos com a natureza de acordo com seus modelos de desenvolvimento e, principalmente, o domínio de uma cultura sobre outra no caso a construção de uma represa desrespeitosa aos limites do território Guarani. Além disso, a relação com a disciplina de Biologia era percebida em falas das lideranças, que descreviam os impactos do uso excessivo de agrotóxicos nas fronteiras da aldeia, como agricultura de subsistência comprometida e peixes contaminados no rio”.
