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Pistas da evolução da pandemia nos dados do Google

Epidemiologia digital busca entender a evolução da covid-19 no Brasil a partir de dados de busca e de mobilidade

Com o início da pandemia de covid-19, mais de um ano atrás, e do isolamento físico, ainda que nunca com a adesão que seria necessária para conter efetivamente a propagação do coronavírus no país, as buscas na internet por atividades para fazer em casa, como aprender um novo idioma ou um instrumento, tiveram um pico. Essa e outras tendências foram constatadas por uma dupla de pesquisadores do Laboratório de Bioinformática e Biologia de Sistemas Computacional da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).

O projeto de doutorado de Vitor Crupe e Jeevan Giddaluru visava a estabelecer padrões entre as buscas no Google feitas no Brasil e dados sobre mobilidade com a evolução da pandemia. “O que a gente nota é que na primeira onda as pessoas realmente buscaram coisas para fazer em casa e na segunda onda não se nota o mesmo padrão de buscas”, explicou ao Ciência na rua o coordenador do laboratório, Helder Nakaya. O que as buscas pareciam sugerir – que as pessoas não ficaram em casa – foi corroborado por dados de mobilidade obtidos a partir da localização de telefones celulares e de carros passando por praças de pedágio.

Os pesquisadores constataram também que a maior circulação foi seguida por aumento no número de mortes, numa correlação cruzada, em que se espera um tempo (no caso, alguns dias) para comparar uma curva com outra. O aumento de mortes era acompanhado pelo aumento de buscas sobre remédios, como a cloroquina, que não tem eficácia contra a covid-19.

Esse campo é chamado de epidemiologia digital. A epidemiologia consiste em estudar os fatores relacionados com uma epidemia: frequência, distribuição etc. A diferença aqui é o uso de dados digitais.

Afora essa pesquisa, o laboratório desenvolveu mais de 20 trabalhos relacionados à covid-19: caracterização molecular de pacientes, com a análise de mais de 4 milhões de resultados de exames laboratoriais comparando padrões genéticos de pulmões e sangue, estudo sobre o papel da melatonina na resposta à infecção, participação no desenvolvimento em um método de diagnóstico e a constatação da gastrite como comorbidade que aumenta a probabilidade de morte pela doença. “Na pandemia, estivemos muito ativos, e talvez vários de nós até com burnout de tanto trabalhar”, contou Nakaya. Outro projeto do laboratório, anterior à pandemia, é o VACC, um jogo que pretende ajudar o Ministério da Saúde a digitalizar as informações das carteiras de vacinação dos brasileiros.

Um artigo sobre a pesquisa de Crupe e Giddaluru deverá ser submetido para publicação em revista científica no fim de abril.

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