Muitos estudiosos dos vampiros não duvidam em relacionar essas criaturas da noite com pessoas que sofrem de uma doença do sangue conhecida como porfiria. Ela tem esse nome porque quem sofre dessa enfermidade (ou ao menos de uma variedade dela) tem superprodução de uma molécula* que está diretamente associada a uma proteína muito importante do sangue: a hemoglobina. As porfirinas servem como molde para a geração do grupo heme, que, junto com a proteína hemoglobina, é responsável por transportar o oxigênio e dar a típica cor vermelha ao nosso sangue.
O aumento anormal das porfirinas no sangue traz uma série de transtornos que nos lembrarão dos vampiros.
A produção do grupo heme será afetada, por isso o sangue transporta menos oxigênio, levando a anemia. A pele de uma pessoa anêmica costuma ser pálida, às vezes com um matiz levemente azulado (sangue não oxigenado). Lembra alguma coisa?
Quem sofria de outros tipos de anemia, por causas alimentares ou hereditárias (como talassemia ou anemia falciforme) frequentemente era apontado como vítima de vampiro, devido à palidez e às olheiras. Em muitos casos, após sua morte, esses doentes eram enterrados com uma estaca cravada no coração ou uma cabeça de alho na boca. Vai que acordavam com vontade de morder pescoços…
As porfirinas costumam se acumular na pele e em geral reagem com a luz solar, produzindo bolhas e feridas. Na antiguidade, os doentes de porfiria só podiam sair à noite, para evitar serem machucados pelo Sol. Lembrou de alguém?
As gengivas dos doentes de porfiria costumam se retrair, por isso seus dentes ficam mais ressaltados que o normal, particularmente os caninos. Vem à mente alguma imagem familiar?
Um dos componentes voláteis do alho, o dissulfeto de alila, é capaz de destruir o grupo heme, piorando os sintomas da porfiria. Por isso quem sofre dessa doença costuma evitar o alho. Entendeu por que a porfiria é chamada de “doença dos vampiros”?
*corrigido em 10/07 às 16h59.
Nota do Ciência na rua: a espanhola Fide Mirón, que sofre de porfiria, realiza um importante trabalho de divulgação e conscientização sobre essa doença rara. Não publicamos foto dela por questões de direitos autorais.
Ciência Monstruosa é um projeto do pesquisador e comunicador científico argentino Alberto Díaz Añel, que o Ciência na rua está adaptando para o português. Toda sexta-feira publicaremos um texto aqui e nas nossas redes sociais.
Vampiros: quanto mais longe, melhor (publicado em 3 de julho)