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Veio aí mais um Acampamento Terra Livre

por | 9 abr 2025

Luiza Moura explica a importância do ato do movimento indígena, que acontece anualmente em Brasília

ilustração: Kairo Rudáh

Nesta semana, está rolando em Brasília o Acampamento Terra Livre. Essa manifestação já se tornou uma tradição e pode ser considerado um dos mais importantes, se não o mais importante, ato dos povos indígenas do Brasil. O ATL, como é conhecido entre os ambientalistas, ativistas e comunidades indígenas, já acontece há alguns anos. Nesta edição, além de destacar as lutas desses povos, o ATL também comemora um importante aniversário: os 20 anos da APIB, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, uma das principais organizações de luta e resistência desses povos aqui no nosso país.

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

Já é fato sabido e repetido que os povos e comunidades indígenas desempenham um papel vital e central na luta em defesa do meio ambiente e no combate às mudanças climáticas. Lideranças como Ailton Krenak, Txai Suruí, Sonia Guajajara, Joenia Wapichana, Adriana Munduruku e o Cacique Raoni são alguns dos nomes mais conhecidos do movimento indígena no Brasil e constantemente reforçam a importância de se ouvir e de se aprender com suas culturas, se quisermos ter alguma chance de salvar o mundo e o ambiente em que vivemos.

Mas, para além dessas lideranças, que são absolutamente fundamentais e que são fonte de grande inspiração para mim e demais ativistas da causa socioambiental, todos os indígenas e todas as comunidades tradicionais do Brasil devem ser ouvidas, respeitadas e admiradas em suas particularidades e em suas especificidades. O tema do ATL nesse ano é “A APIB somos todos nós” em uma crítica direta ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, responsável por criar uma comissão mista para negociar sobre o PL do Marco Temporal. O problema é que essa comissão é formada majoritariamente por ruralistas e só tinha cinco representantes de povos indígenas. Vale lembrar que a APIB se retirou das negociações (para entender mais recomendo o mais novo episódio do podcast “Bom dia, fim do mundo” da Agência Pública).

Fato é que, mesmo sendo uma das comunidades mais atacadas e mais vulnerabilizadas neste país desde sempre, os povos indígenas do Brasil continuam sendo exemplo de resistência, luta, construção coletiva e defesa da causa socioambiental. Como disse Ailton Krenak, o futuro deve ser ancestral. Não existe a menor possibilidade de pensarmos em combate às mudanças climáticas se não passarmos a pensar, a respeitar e a adotar práticas, costumes e formas de visão que os povos indígenas sempre tiveram.

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil

Uma cultura agrária que respeite os ciclos naturais, o respeito para com todas as formas de vida e com o ambiente natural, uma cosmologia e uma cosmovisão que entendam a Natureza como uma entidade igual aos Humanos e tão importante quanto o nosso grupo. É fundamental olharmos e aprendermos com essas pessoas.

O Acampamento Terra Livre abre oportunidade para, mais uma vez, os povos indígenas serem os protagonistas das narrativas, das lutas e das construções. Abre espaço para, mais uma vez, os homens brancos, eurocentristas e, muitas vezes, colonialistas, olharem para esses grupos e entenderem que não há nada mais revolucionário do que a ancestralidade. Nós, os ambientalistas, já entendemos isso há muito tempo e temos nos povos indígenas nossos principais e mais importantes aliados. É tempo de o resto da sociedade abrir seus olhos, seus ouvidos e sua mente para aprender com quem sabe tanto há tanto tempo.

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