Luiza Moura comenta a prática de empresas se venderem como ambientalmente responsáveis
O termo greenwashing acabou se popularizando nos últimos anos. Basicamente, greenwashing é a prática adotada por uma série de empresas nacionais, multinacionais e internacionais que usam uma “camuflagem verde” pra dizer que têm práticas sustentáveis quando, na realidade, são grandes responsáveis pelo desmatamento, pelas catástrofes ambientais e por diversos problemas ambientais.
Um exemplo claro disso, no Brasil, é a Vale, responsável pelos desastres de Brumadinho e de Mariana, que recentemente anda investindo pesado em propagandas sobre sustentabilidade, inclusive convidando influenciadores para fazer esses conteúdos. A grande questão é que, na realidade, não adianta nada investir milhões de reais em propagandas sobre práticas sustentáveis e sobre como a Vale é uma empresa inovadora, mas continuar explorando minério e colocando a vida de centenas de pessoas em risco.
A Vale é só um exemplo, o greenwashing é uma prática comum e recorrente, no Brasil e no mundo. É uma tentativa clássica de empresas responsáveis por essas tragédias minimizarem, pelo menos na aparência, suas responsabilidades e sua parcela de culpa em desastres. Independentemente de propaganda ou de vídeo com influencer, o fato é que essas empresas estão no centro dos problemas que nos trouxeram até aqui.
As empresas extrativistas contribuem com a lógica extrativista, predatória e excludente do sistema capitalista, contribuindo com o sistema de desenvolvimento que enxerga os recursos naturais como coisas que podem ser exploradas e extraídas para o bem do “desenvolvimento” humano. Já questionei em diversos textos aqui no Ciência na Rua essa lógica do desenvolvimento e esse modelo em que estamos inseridos, não vou me alongar nesse debate. Mas, acho que é fundamental que todas as pessoas apontem o greenwashing, falem sobre o greenwashing. E, mais do que isso, é fundamental e urgente entender que as empresas não vão nos salvar. As empresas têm sim um papel central e fundamental na questão da crise climática. Mas não são elas e nem as suas práticas enganosas de sustentabilidade que vão nos salvar.
O que pode, de fato, nos salvar são as práticas comunitárias, as lógicas tradicionais, a visão de povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Grandes empresas, máquinas, obras e lucros não nos interessam. Precisamos de uma mudança de lógica, de mentalidade, de entendimento de mundo. E precisamos, também com urgência, denunciar o greenwashing, denunciar essas empresas e cobrar que elas sejam verdadeiramente punidas e responsabilizadas pelos seus crimes ambientais.