jornalismo, ciência, juventude e humor
Uma tarde de jornalismo e ciência em São Miguel Paulista
Ciência na rua

por | 31 out 2019

No começo de outubro, mais precisamente, na tarde do sábado, 5, três jovens de idades entre 16 e 21 anos participaram da primeira oficina de criação em jornalismo de ciência realizada pelo Ciência na rua em parceria com o projeto Minas Programam, no Galpão ZL, em São Miguel Paulista, mantido pela Fundação Tide Setúbal. As inscrições haviam prometido mais: 13 moças e um rapaz. Parece, entretanto, que é de praxe alguma diferença entre o número de inscritos e participantes efetivos dos variados cursos e oficinas oferecidos à moçada nos bairros distantes do centro de São Paulo, em fins de semana – talvez não tamanha diferença.

Se ante a parca afluência tivesse passado pela minha cabeça, em algum momento, suspender a atividade programada – e não passou –, qualquer veleidade nesse sentido teria se esfumado completamente no momento mesmo em que nos apresentamos, os cinco em círculo na sala – as três jovens mais os dois coordenadores da oficina (Mariluce Moura e Tiago Marconi). Antes de mais nada porque uma das garotas saíra de Parelheiros, nas lonjuras da Zona Sul, às 9h30 para ter certeza de que teria chegado àquele galpão na Zona Leste quando a programação tivesse início, às 14h. O trânsito estava muito bom e ela chegara cedo, porque gastara apenas três horas em seu percurso. O usual seriam quatro horas, nos contou.

Uma estudante de jornalismo de 21 anos, aluna de uma faculdade privada, não daquelas mais caras, que realiza esse esforço de deslocamento num sábado para um contato prático com o jornalismo de ciência, merece respeito (e falo com a “autoridade” de quem passou a adolescência e começo da juventude, ali dos 11 aos 22 anos, gastando diariamente entre uma hora e uma hora e meia em cada deslocamento periferia-centro-periferia em Salvador, para todas as atividades de estudos e trabalho). Como também o merecem a jovem de 18 anos que faz seus primeiros trabalhos jornalísticos na periferia e a adolescente de 16 anos, ligadíssima em programação computacional, que está tentando descobrir se vai se candidatar a um curso superior, e qual.

Em suma, feitas as apresentações, cabia tocar a oficina, que passava primeiro pela leitura, exame e debate de uma reportagem sobre os recifes da Amazônia, originalmente elaborada e publicada pelo Jornal da USP e depois reproduzida por outros veículos, inclusive o Ciência na rua. Embora dentro de um campo que parece mais fácil e provocador de mais empatia do público jovem, dentro do vasto âmbito do jornalismo científico, o assunto era polêmico e, além do texto, envolvia o exame de infografia e vídeo dos próprios pesquisadores. Resultado: o grupo consumiu quase três horas nessa parte. Restava pouco mais de uma hora para a leitura de um artigo científico que provocasse o interesse das garotas e permitisse ao menos a elaboração do primeiro parágrafo de uma notícia sobre a pesquisa.

Com mínimas correções, eis o que escreveram Ana Carolina Soares Santos, Beatriz Braz Ferraz e Laura da Silva Biaggioli:

Tédio e tempo ocioso levam estudantes a usarem o celular em sala de aula

O uso de tecnologia ainda causa polêmica nas escolas

Um estudo feito por Estevon Nagumo, mestre em educação pela Universidade de Brasilia (UnB) e Lucio Teles França, doutor em informática e educação pela Universidade de Toronto, no Canadá, sobre o uso do celular por estudantes na escola mostra como as escolas estão perdendo o monopólio do ensino para smartphones.

A pesquisa realizada em 2013 com 29 estudantes, dos quais 19 de escolas públicas e dez da rede privada, mostra que “o modelo vigente está cada vez mais distante de um público que tem acesso constante à informação”. O desinteresse pela sala de aula convencional acontece principalmente porque a juventude está cada vez mais acostumada a uma dinâmica de constante informação, coisa de que o ambiente escolar não dá conta.

A proibição do uso de celular não é eficiente e, ao contrário do que argumentam as escolas, ou seja, que os alunos utilizam a internet só para cola ou uso pessoal (redes sociais), há também seu uso didático para pesquisas e para fazer cálculos. Além disso, a causa da distração dos estudantes não é exclusivamente o uso do celular, e sim as aulas desinteressantes agravadas pela falta de tecnologia dentro das escolas.

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