jornalismo, ciência, juventude e humor
‘Primata’ convida à reflexão sobre ética, ciência e arte

Primata é um filme chocante. O documentário dirigido por Frederick Wiseman, lançado em 1974, mostra a rotina de um laboratório em que diferentes espécies de macacos são usadas como cobaia para estudos sobre reprodução, antropologia evolutiva e de interesse militar. As imagens cruas de nossos parentes símios sendo manipulados, masturbados, vivissectados etc., causam no espectador todo o tipo de sentimento entre o desconforto e a repulsa. Produzido para a TV pública dos Estados Unidos, o filme foi rejeitado por algumas retransmissoras regionais e causou grande polêmica na época de seu lançamento.

Não era a primeira polêmica envolvendo o diretor, hoje com 90 anos e 47 filmes dirigidos. Titicut Follies, de 1967, sobre a rotina de uma instituição psiquiátrica, foi objeto de uma disputa judicial em que o estado de Massachusetts, alegando que o filme violava a privacidade e a dignidade dos pacientes, conseguiu impedir seu lançamento. A despeito de quais seriam as reais preocupações por trás das alegações do estado (que, afinal, era o responsável pela instituição), Titicut Follies certamente é um grande ponto de partida sobre ética e documentário em cursos de cinema e audiovisual pelo mundo.

Primata também enseja controvérsias sobre a ética na feitura de documentários, e mais: sobre a ética na produção do conhecimento científico. Essa conjunção de temas espinhosos é o que interessou à pesquisadora Juliana Fausto, doutora em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), que palestrou sobre o filme na terça-feira, 14, no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, em evento promovido pelo Instituto Serrapilheira.

A pesquisadora Juliana Fausto, durante conversa no IMS

Partindo do documentário, Juliana – que, além de filosofia da ciência, se dedica a estudos sobre feminismo – falou, entre outros temas, sobre divisão social do trabalho na ciência (os distintos lugares ocupados por homens brancos, homens negros e mulheres no laboratório), a noção de verdade no documentário e na ciência e a comunicação do fazer científico a públicos leigos, passando por autores como Bruno Latour e Donna Haraway. Em seguida, foi a vez do público fazer perguntas.

O documentário terá mais uma exibição no IMS Paulista, no sábado, 18, às 16h30. No dia 21, às 18h30, será exibido no IMS Rio, seguido de debate com Juliana Fausto e o jornalista Bernardo Esteves, da Revista Piauí. E novamente no IMS Rio, no dia 25, às 18h.

Compartilhe:

Acompanhe nas redes

ASSINE NOSSO BOLETIM

publicidade