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Pesquisa aponta que aquecimento global causou preocupante mortandade de corais em Alagoas

Luan Oliveira – Peld Costa dos Corais Alagoas, Eco Nordeste

Temperaturas recordes reduziram a cobertura de corais vivos em até 18% e levou à erradicação de espécies em certas áreas

Coral branqueado fotografado por pesquisadores na costa dos corais (foto: Projeto Conservação Recifal)

Maragogi – AL. As temperaturas recordes que vêm sendo registradas nos oceanos devido ao aquecimento global causaram uma mortandade de corais sem precedentes no litoral alagoano no ano de 2020, segundo constata pesquisa publicada na Frontiers in Marine Science. No caso de algumas espécies de corais, os números chegaram a 50%, e a cobertura média de corais vivos foi reduzida em até 18%.

A pesquisa foi realizada por pesquisadores do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld) Costa dos Corais Alagoas e do Projeto de Conservação Recifal (PCR). Contribuíram pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O levantamento foi realizado no município de Maragogi, no litoral norte do Estado, chamado muitas vezes de “Caribe brasileiro” e um dos principais destinos turísticos do Brasil. O mar paradisíaco da cidade registrou, em 2020, o maior acúmulo de estresse por calor da série histórica, iniciada em 1985. O DHW (degree heating week), unidade que mede esse estresse, atingiu 12 em maio de 2020 – quando valores acima de 4 costumam causar o adoecimento de 30 a 40% dos corais afetados.

A doença em questão é o branqueamento, que ocorre quando microalgas que vivem em simbiose com os corais fogem de seus esporos devido às altas temperaturas, dando ao coral um aspecto esbranquiçado. Essas algas são essenciais para a sobrevivência dos corais e, caso passem muito tempo fora de sua estrutura, levam à sua morte. Corais branqueados também são menos atrativos para turistas, causando um problema para a população que vive desta atividade na região.

A pesquisa destaca que a maior parte dos picos de estresse térmico registrados na região ocorreram nos últimos 10 anos, um outro indicativo do impacto das mudanças climáticas no ecossistema. Devido à pandemia de Covid-19, parte do trabalho foi feito com o auxílio de imagens de satélite e outras metodologias de monitoramento à distância.

O fenômeno resultou em uma redução média de 18.1% na cobertura de corais vivos em comparação com os registros pré-branqueamento”, afirma o texto do artigo. “A mortalidade na pesquisa pós-branqueamento foi significativamente maior para três espécies, Millepora alcicornis (corais-de-fogo), Millepora braziliensis e Mussismilia harttii (coral-cérebro), as duas últimas sendo espécies endêmicas”.

Em algumas áreas analisadas, foi constatado que o Millepora braziliensis foi totalmente erradicado, gerando um desequilíbrio perigoso no ecossistema. Esses dados indicam que as populações de duas espécies de corais endêmicos ao Brasil estão sob ameaça severa”, alertam os pesquisadores. “Essas espécies são ecologicamente relevantes, servindo de construtores de recifes e de habitats para peixe”.

Coral branqueado fotografado por pesquisadores na costa dos corais (foto: Projeto Conservação Recifal)

Os impactos desse fenômeno, embora claramente negativos, ainda não foram mesurados e devem ser sentidos principalmente por pescadores e pelas comunidades que vivem das atividades marinhas. O artigo reforça um alerta contrário à ideia de que o sudoeste atlântico pode servir como um “refúgio” para espécies que sofrem com o impacto das mudanças climáticas em outras regiões, destacando que o fenômeno, apesar de menos documentado, está presente.

O derramamento de mais de 5 mil toneladas de óleo no litoral do Nordeste também pode ter impactado na catástrofe estudada. A Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais foi uma das regiões mais afetadas pelo derramamento, mas análises mais aprofundadas ainda estão pendentes para analisar o papel do óleo no aumento das temperaturas.

Peld Costa dos Corais

Atuante desde 2017, o Peld Costa dos Corais é um dos mais de 30 sítios Peld espalhados pelo Brasil, que possuem como objetivo serem áreas de referência para pesquisa de ecologia dos ecossistemas. O programa é parte da rede Ilter (International long term ecological research), traduzindo, Pesquisa Ecológica Internacional de Longo Prazo, que reúne 40 países onde pesquisas do tipo são realizadas.

A APA Costa dos Corais é a maior unidade de conservação marinho-costeira do Brasil, abrangendo 400 mil hectares, partindo do litoral norte de Maceió (AL) até Tamandaré (PE). Coberta de barreiras de corais e manguezais, ela é o lar de várias espécies de animais e plantas, alguns deles ameaçados de extinção, como o peixe-boi-marinho.

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