por Luiza Moura
Uma aliança de países que fizeram parte de uma periferia do sistema (tirando a Rússia) tem importância prática, pragmática e histórica, reconhece colunista, mas preocupa o papel que terá o combustível fóssil na aliança .
Quem estuda Relações Internacionais já cansou de ouvir falar sobre os BRICS. O bloco fundado, originalmente, por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul acabou de ganhar mais seis integrantes. A aliança segue uma série de critérios estipulados anos atrás: agrega países com economias em crescimento, territorialmente grandes, com populações também grandes e diversas outras características. Bom, aparentemente o BRICS resolveu aderir a mais um critério: ser um país exportador de petróleo, né? Quer dizer, tá. Oficialmente isso não foi acordado, mas com a entrada de novos países, o número de exportadores de petróleo no BRICS cresceu de forma importante.
Brasil, Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Irã são países que baseiam parte relevante da sua economia na exportação e na exploração petrolífera. Nesse sentido, você deve estar se perguntando “essa não é uma coluna sobre questões socioambientais”. Sim, é sim. E a questão é justamente essa. Será que não é preciso pensar sobre o impacto de mais países petroleiros nos BRICS?
Vivemos um tempo de crise climática declarada. Os impactos dos combustíveis fósseis para o aquecimento global são cientificamente comprovados. E, no entanto, nós trouxemos para um dos blocos mais importantes da geopolítica mundial quatro novos países que não parecem estar querendo abrir mão da exploração de petróleo. Somados com eles, Brasil e Rússia completam o grupo dos exploradores que parecem ainda não ter saído de uma lógica do século passado que vê no petróleo a salvação para todos os problemas do mundo.
Vale ressaltar que o Brasil ainda tá discutindo internamente sobre a exploração de petróleo na costa do Amapá (gente, pelo amor de Deus 2023, bora combinar de deixar petróleo embaixo da terra?????). Além disso, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos compõem a OPEP, Organização dos Países Exportadores de Petróleo, ou seja, exploram petróleo e ainda fazem parte da organização que discute isso em âmbito internacional.
Ao mesmo tempo temos, no Equador, a população decidindo por não explorar mais petróleo em uma região amazônica. Temos exemplos práticos de que é possível pensar em outras formas de existir, de se desenvolver e, inclusive, de questionar esse desenvolvimento hegemônico e imposto. Será que o bloco vai estar disposto a discutir tudo isso? Ou será que o lobby do petróleo vai falar mais alto, como sempre falou? Ah, e vale lembrar que a COP deste ano é em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e o presidente do encontro é o quê? Isso mesmo, PETROLEIRO!!!! (só rindo pra não chorar de uma tragédia dessas).
Enquanto internacionalista quase formada, a adesão dos novos membros ao bloco me preocupa por uma série de motivos: o que são os BRICS hoje? O que querem enquanto aliança de países do Sul Global? Vamos fazer uma discussão, de fato, decolonial sobre o Sistema Internacional ou vamos apenas seguir no mesmo status quo de sempre?
Por outro lado, enquanto ambientalista o crescimento dos BRICS me preocupa ainda mais: o petróleo vai passar a fazer parte da agenda do bloco? Como discutir a transição energética com países tão arraigados economicamente ao petróleo? Como os BRICS vão se posicionar frente à crise climática?
Não me entendam mal, acho que o bloco cumpre um papel importante no xadrez do sistema internacional. Organizar em uma aliança países que fizeram parte de uma periferia do sistema (tirando a Rússia, convenhamos) tem sua importância prática, pragmática e histórica. Brigar por uma reforma do Conselho de Segurança é algo, mais do que necessário, urgente. Estamos de acordo com isso.
Só acho que é preciso pensar como esses países irão se articular daqui para frente. E qual vai ser o papel do petróleo nisso tudo. Tomara que eu esteja muito errada e que essa matéria prima não se torne algo central para os BRICS+. São cenas dos próximos capítulos. Veremos.
Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental