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O tempo é relativo, não absoluto

Por Thaciana de Sousa Santos

Colunista apela a proposição da física para comentar superação de obstáculos e administração do cotidiano

Finalmente, estou de férias. Fiz todas as provas e agora é aproveitar o momento que tenho até o próximo semestre. E sendo bem sincera, acho que estou preocupada. Não só pelas matérias, mas por terminar o ciclo básico, porque eu ainda me considero bixo sênior e depois disso, realmente serei veterana. Bizarro, né?

Parece que comecei o curso ontem, uma menina que acabou de sair do ensino médio, com 18 anos e sem saber qual rumo tomar. Terminei a escola sem saber o que realmente importava e demorei para aprender coisas básicas, como criar uma conta no banco e sacar dinheiro e, até hoje, não sei fazer depósito. Mas me virei e estou tentando me tornar uma adulta funcional.

Voltando para as férias, não irei viajar, viverei em função da Copa feminina e fiquei muito feliz porque agora terá ponto facultativo nos dias de jogo da seleção. Isso foi um passo e tanto e elas merecem isso, porque não deixa de ser futebol e não deixa de ser a seleção brasileira jogando.

Vou contar um pouquinho sobre como foi o meu semestre e adianto que não melhorou tanto desde o anterior e estou começando a acreditar que isso nunca acontecerá. Mas, eu já não chorei tanto, talvez umas duas ou três vezes, fui bem até, né?

Acho que a minha parte favorita foram as aulas de astronomia, eu finalmente senti que estava no curso certo e que não era um peixe fora d’água. Mas é claro que isso só durava nessas aulas, nas outras já batia o desespero, subia uma vontade de chorar e um nó na garganta.

Mas a faculdade é isso, ter matérias que a gente gosta e algumas que não gosta. Na escola também era assim, claro, mas não me fazia duvidar do meu futuro, como agora acontece.

Penso se não deveria ter tirado um ano sabático, sabático de estudos, claro. Não dava para ficar ao Deus dará e fingir que tudo parou. Mas é claro que entra toda a história de ter que estudar de novo para vestibular, algo que ocuparia uns dois anos da minha vida, ou mais, nunca se sabe.

Aí eu fico pensando naqueles que resolvem fazer faculdade depois, como deve ser difícil estudar para as provas, acho que o processo fica muito mais solitário. Já é muito difícil lidar com as expectativas dos outros e as nossas, ou com alguém falando para tentar algo “mais fácil”.

Nas minhas turmas, por incrível que pareça, pessoas com menos de 25 anos são poucas, e as mais velhas já são formadas, algumas em algum tipo engenharia. Conheço alguém que já é formado em licenciatura em física e está fazendo física médica agora. Eu jurei que essa pessoa poderia pedir equivalência em algumas matérias, como física, cálculo, eu não sei, mas está refazendo tudo.

Me peguei pensando: será que eu teria coragem de fazer outra graduação? E olha, sinceramente, não estou aguentando agora que ainda tenho 20 anos, quem dirá com uns 40. Eu admiro quem faz, juro. Eu só não teria energia. Ou eu ainda não aprendi a lidar com todas as obrigações universitárias (que são muitas).

Então, nessas férias eu pretendo me reencontrar para tentar ter um processo um tanto quanto mais calmo. E apesar de me sentir perdida nas minhas matérias obrigatórias,  já passei por um processo doloroso, cheguei até aqui, e não será agora que eu irei desistir.

Aprendi algo recentemente que me fez abrir a mente. Muitos jovens têm aquilo de querer tudo para ontem, de imediato e quando isso acontece, se sentem frustrados ou até mesmo atrasados. Eu mesma, quando era mais nova, achei que com 18 anos teria um carro e já moraria sozinha e isso me fez sentir como se eu estivesse atrasada na vida. Mas não estou.

Às vezes fico meio assim com o meu namorado porque estou vendo um bocado de gente da nossa idade noivando e casando e nada de ele me pedir ainda. Mas aprendi que nunca estaremos atrasados para o que é nosso. É só questão de tempo e o tempo é relativo, não absoluto.


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

 

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