Luiza Moura critica o festival Amazônia Live

Ilustração: Kairo Rudáh, a partir de fotos de divulgação e de Wagner Meier/Getty Images)
Há algumas semanas, escrevi um texto para o Ciência na Rua discutindo as contradições da COP30 e, principalmente, o absurdo que é a reunião mais importante sobre clima e meio ambiente se tornar uma festa, um rolê aleatório e um grande festival de música no meio da Amazônia. No artigo em questão eu comentei sobre o tal do Amazônia Live, um mega show patrocinado pela Vale, que levou divas pop como Mariah Carey e Joelma para se apresentarem no meio da floresta amazônica.
Pois bem. Na semana passada, no dia 17, aconteceu o tal do show. E, sinceramente, minhas expectativas eram baixas, mas conseguiu ser ainda pior do que eu imaginava… Não sei quem teve a ideia genial (contém ironia) de construir uma vitória-régia gigante no meio do rio Guamá, em Belém, mas será que o responsável por isso não pensou na perturbação que isso poderia causar na fauna e na flora locais? Poluição sonora, alteração no curso das águas por conta da estrutura gigantesca, grande número de pessoas circulando nesse ambiente natural, descartando seus resíduos sólidos… Sinceramente, isso é o que estão chamando de sustentabilidade por aí?
Além disso, precisamos falar sobre outro problema gravíssimo. A apresentação foi restrita a um número pequeno de convidados VIPs — influenciadores e celebridades — que puderam assistir o show ao vivo. Fico me perguntando: e as comunidades locais? Os ribeirinhos, caiçaras e povos indígenas da região foram consultados sobre os impactos desse show em suas vidas? Mais do que isso, foram incluídos nas discussões sobre essa “celebração da Amazônia”? A defesa do meio ambiente passa necessariamente pela inclusão, o respeito e o apoio às comunidades locais e tradicionais.
O que vemos nesse caso é mais uma tentativa de deixar pop a luta por um mundo mais saudável, ecológico e justo para todas as pessoas. É aquela coisa, né. O agro é pop, a transição energética é pop e agora a defesa da Amazônia é pop também. Temos aqui um megaespetáculo pago por uma empresa que sabidamente agride o meio ambiente em nome do lucro, mas se diz muito preocupada com questões ambientais e sociais. Olha como eles são fofos, eles até colocam cantoras paraenses para cantar no meio da vitória-régia!
No fim, eu penso que só mesmo as mobilizações populares, o compromisso verdadeiro dos governos locais e nacionais e a coletivização das lutas serão capazes de causar as transformações necessárias para repensarmos nossa relação com a natureza. É urgente que empresas e grupos do setor privado sejam responsabilizados pelos impactos que causam e pelos riscos que trazem à sociedade. E não, um show num palco flutuante em forma de planta não resolve e não vai chegar nem perto de resolver o problema.
Luiza Moura é bacharela relações internacionais pela PUC-SP e ativista socioambiental






