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Tem rio(s) passando em cima da sua cabeça

Por Luiza Moura

A segurança hídrica  do país é apenas uma das muitas questões essenciais de nosso futuro ligadas à proteção da floresta Amazônica, diz colunista

“Chuvas na Amazônia geraram mais da metade do estoque de água do Brasil (https://realtime1.com.br)”

Vou lançar um desafio: 3, 2, 1. Olha pro céu!! Tá vendo os rios?? Não?? Poxa, olha com mais cuidado. Presta atenção. Viu?? Ok, eu admito. Talvez não seja possível vê-los, mas eles estão aí, eu garanto. Eu tô falando do fenômeno que ficou conhecido popularmente como rios voadores. Todos os dias, milhares de litros de água sobem pelos céus devido a transpiração de árvores na floresta amazônica e são transportados pelos céus do Brasil inteiro, sendo importantíssimos e cruciais para manter o ciclo e a segurança hídrica do Brasil *(veja a animação).

Esse fenômeno é parte fundamental da segurança hídrica brasileira já que é responsável pelas chuvas e precipitações em diversos locais do país, abastecendo rios, cabeceiras d’água e, por consequência, lençóis freáticos. Porém, há um problema: a crise climática.

Com o aumento da temperatura do planeta, existe um risco real de atingirmos o chamado “ponto de não retorno”, ou seja, estamos caminhando para um momento em que já não haverá o que fazer e a Amazônia, atualmente uma floresta tropical extremamente úmida, irá se savanizar, sim, é isso mesmo. A Floresta Amazônica, um dos maiores tesouros do Brasil, vai se transformar em uma savana. Não me levem a mal e não me entendem errado, Savanas são ecossistemas superimportantes. Mas, para a realidade brasileira e a forma como a natureza brasileira se organizou, é fundamental ter a Amazônia como uma floresta úmida, e não como uma savana.

Façam um esforcinho e tentem lembrar do que foi a crise hídrica enfrentada por São Paulo lá em 2014, 2015 e tal. Lembram do racionamento? Do sistema Cantareira em baixa? Do uso do volume morto? Talvez as pessoas de classe média e de classe média alta pensem, “ah, eu nem fui tão atingido assim, não faltou água na minha casa”. Mas faltou água na casa de muita gente. Muita gente mesmo. Agora, imagine isso em proporção nacional. O país inteiro afetado por uma crise hídrica nunca antes vista, ou, como diz o presidente: Nunca antes na história desse país.

Pois é, nunca antes. Mas talvez a gente esteja caminhando para a primeira vez na história desse país. E, talvez, a gente esteja se aproximando de viver a primeira vez de muitas em que isso vai acontecer. Porque, para além do que a gente já vem experienciando, secas, ondas de calor, enchentes catastróficas, a crise climática vai trazer consigo alterações de fauna, flora e dos nossos biomas. A Amazônia vai sofrer os impactos. A Mata Atlântica também. O Cerrado também. E a Caatinga, o Pantanal e os Pampas também.

Todos os complexos ecossistemas que habitam o planeta Terra serão afetados por ações do homem e de um sistema socioeconômico brutal e cruel que nos trouxe até aqui. Porque, sim, não podemos nos iludir. Estamos falando de um problema sistêmico. De um modo de produção que visa única e exclusivamente o lucro de alguns (poucos).

Não esqueçamos, também, da importância mundial da Floresta Amazônica que até pouco tempo era conhecida como “Pulmão do Mundo”. De fato, esse conceito tem problemas teóricos e caiu um tanto em desuso. Mas, dá uma dimensão do tamanho dessa floresta brasileira e de sua importância mundial.

Portanto, proteger a Amazônia e barrar, imediatamente, os impactos da crise climática é fundamental e crucial para salvar o planeta, mas também para salvar a vida humana, que depende da água para existir. Como tenho dito nas últimas colunas, a hora de agir é agora. E proteger os rios voadores da Amazônia é, mais uma das nossas missões.


Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental

  • “.Estudos recentes têm mostrado uma ligação significativa entre o sistema climático amazônico e aquele sobre a bacia do Prata. Poucos pessoas conhecem a existência do transporte do vapor de água amazônico por essas massas de ar denominados de rios voadores ou rios aéreos. Muito menos podem imaginar que o volume de vapor de água lançado para a atmosfera pelas árvores da floresta amazônica pode ter a mesma ordem de grandeza da vazão do rio Amazonas (200.000 m3/s).”  (ver mais em https://riosvoadores.com.br/o-projeto/)

 

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