Por Thaciana de Sousa Santos
Exposição de fotojornalismo leva jovem colunista da emoção a uma dura crítica às lacunas e vieses do sistema básico de ensino no país
Estar na faculdade me proporciona olhares diferentes para o mundo e uma sensibilidade com tudo que é diferente. E o que mais tem me impressionado é o que está fora do meu meio de estudo e convívio.
Na escola, eu sempre escutei que apenas aqueles que eram bons em exatas e biológicas eram inteligentes, como se outros tipos de conhecimento ou inteligência não valessem, e eu sei que você já ouviu isso em algum momento da sua vida.
Como se história e geografia não fossem importantes, ou como se fosse muito simples ler e interpretar um poema, coisa que eu nunca consegui fazer com louvor.
Eu sempre admirei muito quem era bom em história, porque eu mesma só conseguia guardar os acontecimentos isolados, nunca consegui fazer ligações com todo o resto. Enquanto aqui no Brasil acontecia alguma coisa, eu não conseguia conectar com o que acontecia na Europa ou em outro lugar.
E aproveitando a minha deixa, vou falar sobre uma exposição que eu fui ver no feriado da última sexta-feira lá no Instituto Moreira Salles, lá na Avenida Paulista. A exposição era sobre a ditadura militar e a importância do fotojornalismo.
No primeiro andar tinham alguns livros à venda e, olha, não sei se é pela localização ou se realmente era o que valia, mas, eu achei extremamente caros. Até na livraria Cultura, que é ali perto, estava tudo um absurdo, até os livros usados, os famosos livros de sebo, estavam custando mais de 30 reais.
Pulando a parte dos livros caros, no andar de cima tinha a tal exposição*. Eram fotos bem pesadas, mas acho que esse era o intuito mesmo, mostrar aquela realidade, contar uma história para o que o passado não torne a se repetir.
Eu fiquei muito emocionada e tinham fotos que eu nem conseguia olhar, porque doíam em mim, como se fosse alguém que eu amo passando por tudo aquilo, e eu não imagino a tristeza de todos aqueles que perderam um ente querido ou o amor de suas vidas nesse período. Foi desumano e ainda há quem defenda, falando que foi apenas uma intervenção ou sei lá qual outra loucura que inventam para defender o indefensável.
Imagino a dor dos professores de ciências humanas que eram censurados apenas por contar o passado, por analisar vários pontos de vista, ou músicos, artistas que não podiam se expressar. Queriam evitar que o mínimo de conhecimento chegasse à população e, de certa forma, isso aconteceu nos últimos 4 anos aqui no país de novo. Queriam deixar os jovens alienados, sem aprender nas escolas o que realmente importa, para que não lutassem por seus direitos. Porque é claro que nem todo mundo vai usar a fórmula de Pitágoras depois que terminar o ensino médio, mas saber que já existiu tamanha violência e que há pessoas que apoiam esse terror, previne que ele volte futuramente.
Foi aí que eu entendi a importância do conjunto, da história e das fotos. As fotos machucam, te causam náuseas, mas são necessárias, acho que validam a história, mostram que aquilo realmente aconteceu, foi real, que teve gente morrendo e que não pode voltar.
Eu peço que façam uma visita, se puderem, mas se preparem, porque dói, dá para sentir a angústia na alma, mas transforma, renova e é sensacional, porque dá para perceber que nem só de teorema de Tales ou Pitágoras é feita a verdadeira educação básica.
*Evandro Teixeira. Chile 1973
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua