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Hora de pegar milho em roça alheia

por | 22 fev 2023

por Thaciana Sousa dos Santos

Enquanto as atividades do curso de física na USP não recomeçam, colunista diverte-se com cenas de um mundo estranho

A rotina universitária ainda não voltou, já estou um pouco entediada, confesso. Mas é melhor aproveitar o tempo que ainda tenho, sem todas as preocupações, então vou contar mais uma história sobre a viagem de férias.

Como já falei, acho a vida lá na roça muito parada, o dia parece não ter fim, ao contrário da minha mãe. Ela acorda com o canto dos galos e passa o dia inteiro caçando o que fazer. Todo dia tem casa de fulano para visitar, e é assim todo ano. É meio estranho porque são conhecidos dela e do meu tio (que moram aqui em SP) do tempo de infância, e os filhos – nós (eu, Paulo e duas primas) – vamos apenas para todos verem como estamos mais velhos.

E sempre foi assim, ano após ano. Era bom quando eu era pequena, sempre tinha um lanchinho na casa de um ou na casa de outro, mas agora realmente me sinto velha quando todo mundo fala, “nossa como você cresceu!” – sim, não sou mais uma menininha. E parei para pensar que estou mais perto dos 30 do que da infância, diferente do Paulo, que só tem 7 anos. Já já me aparecem os cabelos brancos.

Mas meu sentimento de velhice não é o assunto de hoje, vou contar sobre a aventura de pegar milho na casa alheia. Sim, por lá tem dessas, é como se divertem.

Não lembro exatamente o dia, mas sei que estava todo mundo agoniado querendo comer milho. Engraçado que eram os mais velhos que queriam comer (pais), mas ninguém queria ir buscar. Aí lá vai eu, mais duas primas, minha tia e o marido dela (aqueles da história da lesma) buscar milho.

Nem sei em que buraco nos metemos nem de quem era aquela plantação. Fomos de carro e nada da estrada terminar. Já estava escuro quando chegamos e tivemos que pegar o milho com as lanternas dos celulares ligadas.

Já começou dando errado porque eu nem sabia como pegar. Quem era acostumado, sabia o que fazer, eu só fui atrás iluminando o caminho com o celular e carregando o saco.

Assim que eu comecei a sentir as folhas do milho, já me deu uma coceira e medo de ver subir um bicho em cima de mim. Comecei a fazer todas as rezas e orações possíveis, tentei equilibrar todas as coisas que eu tinha que fazer e, num momento, acho que de tanto dar uma olhada em novelas de época, imaginei o dono aparecendo na plantação e correndo atrás da gente com uma espingarda.

Sim, segui adiante, mas na hora me veio essa imagem na cabeça. Imagina só a matéria que ia sair no jornal: ¨Jovem de 19 anos é baleada após pegar milho na plantação alheia”. Mas não aconteceu, juntamos tudo rapidinho e entramos no carro.

Pronto, era hora de acelerar, né? Para não sermos pegos. A minha prima, que está tirando a habilitação, voltou dirigindo. Ela foi bem, até, tirando que os matos batiam no carro ou ela batia nos matos. E quando chegou em uma ladeira, pequena, não conseguia subir, e eu pensei de novo: “se for para tomar tiro, a hora é essa”.

Por fim, chegamos em casa, todos bem e com muito milho para comer. No dia seguinte, acho que era ano novo, a minha avó, mãe e tia-avó ralaram o milho, fizeram curau, bolo doce e salgado (sim, salgado, eu odiei o gosto, mas há quem goste) e cozinharam alguns.

Confesso que o gosto é diferente. Estava bem quentinho, passei a manteiga e até derretia. Valeu a pena!


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

 

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