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Golfinhos aprendem técnica para apanhar peixe uns com os outros
Biologia marinha

por | 26 jun 2020

É a primeira evidência quantitativa de transmisão horizontal de comportamento entre cetáceos

Golfinho com parte do corpo fora da água, carregando uma enorme concha na boca.

Foto: Sonja Wild / Dolphin Innovation Project

Cientistas constataram que golfinhos nariz-de-garrafa em Shark Bay, no oeste da Austrália, aprendem com outros indivíduos da mesma espécie uma técnica para apanhar peixes usando conchas como ferramentas.

A técnica consiste em perseguir o peixe até que ele entre na concha, que o golfinho então apanha com a boca, tapando a saída com o focinho, e leva até a superfície, onde balança a concha para que a água saia e deixa o peixe cair em sua boca. O uso da concha como ferramenta já havia sido observado nos anos 1990, a novidade é a constatação – a primeira evidência quantitativa – de que os indivíduos da espécie a aprendem com outros indivíduos da mesma geração ou de outra geração, mas sem relação de parentesco. Habitualmente, a aprendizagem na espécie se dá de mãe para filho.

A pesquisa, conduzida por biólogos da Universidade de Leeds, na Inglaterra, foi publicada na revista Current Biology. Os pesquisadores usaram dados comportamentais, genéticos e ambientais para modelar os diferentes caminhos de transmissão da técnica. Eles avistaram golfinhos 5.278 vezes, identificaram 1.035 indivíduos e observaram o uso da técnica 42 vezes por 19 golfinhos diferentes. Os pesquisadores avaliam que este número deve estar subestimado, já que a ação dura poucos segundos, sendo portanto difícil de observar.

De acordo com Sonja Wild, primeira autora do artigo, a transmissão horizontal – como é chamado esse tipo de aprendizado entre pares – surpreende. “Isso abre a porta para uma nova compreensão de como golfinhos podem adaptar seu comportamento a ambientes em transformação, já que aprender com os pares permite uma difusão rápida do novo comportamento entre populações”.

Ela mencionou o exemplo de uma grande onda de calor em 2011 em Shark Bay, que diminuiu muito a quantidade de algas, causando a morte de muitos animais, incluindo gastrópodes (como os caracóis) que vivem em conchas gigantes. “Embora só possamos especular se essa diminuição de presas incentivou os golfinhos a adotarem um novo comportamento de forrageio, parece bastante possível que a abundância de conchas de gastrópodes gigantes mortos tenha aumentado as oportunidades de aprendizado desse comportamento”.

A transmissão horizontal é observada em outros mamíferos com grande tolerância social, como os primatas. De acordo com Michael Krützen, da Universidade de Zurique, na Suíça, e também autor do estudo, trata-se de um marco importante que destaca similaridades entre golfinhos e alguns primatas. “Apesar de histórias evolutivas divergentes e do fato de ocuparem ambientes diferentes, tanto golfinhos como grandes macacos são mamíferos com vida longa e cérebros grandes que têm alta capacidade para inovação e transmissão cultural de comportamentos”.

 

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