Colunista visita a avó no interior do Paraná

ilustração: @paozinho_celestial
Nesse exato momento em que vos escrevo, estou sentada na varanda da casa da minha avó, aqui no Paraná. Já tinha mais de um ano que vim aqui e optei por vir nessa época do ano, com a casa vazia, porque assim, faria companhia para ela.
Quando chegam as festividades de final de ano, a casa fica cheia até demais, é muita gente querendo tomar banho de noite, muita gente conversando o dia todo e a minha mãe não pode pisar o pé aqui porque quer visitar Deus e o mundo.
Eu não tenho nem assunto, mas a acompanho nas visitas, e é sempre a mesma coisa: “nossa como você já está velha”, é gente, eu até sei disso. Não é a minha parte favorita da vida, esse negócio de envelhecer, mas é necessário, né? É o ciclo da vida. A velhice às vezes maltrata, fico olhando para a minha vozinha e, mesmo sempre tendo o mesmo rostinho, ela não é tão nova como foi um dia.
Tem dias em que eu penso em desistir da faculdade e tentar um outro caminho, mas, olhando para ela, percebi que não posso. Cheguei longe já, não estou onde sonhei (ainda), mas ela tem tanta fé em mim… E é por isso que não posso simplesmente deixar de lado e abandonar tudo o que fiz. Sempre disse para mim mesma que faria grandes coisas na vida através dos estudos, mas, hoje, com uma percepção diferente, vejo que nunca foi por mim, é por ela e pela minha mãe.
Nem todos aqui tiveram o prazer de conhecer a minha mãe, mas, para mim, não existe ninguém mais gentil que ela. É um coração que não cabe no peito, move céus e terra por todos.
Mas, voltando à minha estadia aqui: esse ano provavelmente não terá roubo de milho e nem lesma embaixo do travesseiro, mas ainda assim, alguma história irá ter. Cheguei aqui na última quinta feira, dia 16 e ficarei até dia 1º de agosto. Por agora não tem muito o que se fazer, parece que está tendo ou teve um tal de rodeio, mas não tenho nem coragem de ir. É uma preguiça que não cabe no corpo
E como não é final de ano, o povo trabalha, né? Aqui é uma cidadezinha muito do interior, os homens trabalham na roça, normalmente, e as mulheres fazem faxina. Não é o tempo todo que os homens tem muito serviço assim, é mais final de ano e agora. No momento, a colheita é de milho, então é uma “passação” de caminhão, pra cima e pra baixo e aqui na casa da minha avó, fica cheio de pózinho. É um negócio que parece aquelas caspas de cabelo quando fazem progressiva. No mais, é tudo tranquilo, mas ela resolveu arrumar um monte de cachorros e fica brava com o tanto de latido, sei nem porque inventa, mas é a companhia que tem durante o dia.
E não importa, sai ano e entra ano, e eu sempre fico sem entender de onde foi que surgiu a história de que quando alguém vai dormir na casa dos outros, falam que vão pousar e não simplesmente passar a noite ou dormir. Acho que essa é a beleza da língua portuguesa, né? Como usamos várias palavras ou expressões e no fim, todas tem o mesmo sentido
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve quinzenalmente para o Ciência na Rua