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Sustos e aventuras na pasmaceira da roça

por | 12 fev 2023

Por Thaciana de Sousa Santos

Colunista conclui com graça que não nasceu para a vida besta e os dias longos do campo 

Voltei. Sei que demorei um pouco, as minhas férias foram longas, e olha que nem acabaram ainda!

Se bem me lembro, fiz uma última prova no dia 21 de dezembro e, dia 23, viajei. Fui ao Paraná, para uma cidadezinha chamada Campina da Lagoa. A minha avó materna mora lá (acho que desde sempre), além de tios, tias e primos.

Fazia muito tempo que não ia até lá, tinha ido ainda antes da covid. Estava com muita saudade, mesmo com o calor danado que faz.

Percebi que não nasci para morar em um lugar assim, ou seja, na roça. A vida é muito parada, todo dia é a mesma coisa, as mesmas pessoas, nada de novo. Não tem um shopping, nem praia, nada. Não tem um ponto turístico, só barro. E é aquele barro vermelho, que gruda na pele. Na hora de tomar banho, tem que esfregar o pé com escovinha de roupa, sabe? Aquela bem dura que fica na lavanderia, essa mesma, e mesmo assim, parece que não limpa. O povo por lá já se acostumou, barrento já virou a cor natural dos pés.

Não sei se é por causa da agitação da vida na cidade grande, mas os dias ficam longos na roça, parece que nunca têm fim. São 19:30h e ainda tem sol. O jeito é tirar uma soneca no meio da tarde para ver se encurta o dia.

Bom, viajei só por uns 11 dias, porque todo mundo precisava voltar à rotina, né? Só eu que tinha muito tempo livre mesmo. E por mais que tenham sido poucos dias, muitas coisas aconteceram e eu vou compartilhar com vocês.

Vou começar com a história que me traumatizou e me deixou a certeza de que eu não nasci para ser do campo. Em uma bela noite, estava na casa da minha tia, pois eu estava “pousando” lá, sim gente, lá eles não falam que vão dormir na casa de fulano e sim que vão pousar lá (me sinto um avião numa pista de pouso). Enfim, fui dormir na casa da minha tia e encontrei uma lesma, até aí tudo bem (não estava tudo bem, mas dava para aguentar), o marido dela colocou a lesma no mato e pronto, fomos todos nos deitar.

Estava com as minhas primas no quarto e papo vai, papo vem, dormimos. Estava naquele sono gostoso, de quem está cansado e a baba até escorre, parecia que não dormia há dias. Até que resolvo deitar-se de bruços e colocar a mão debaixo do travesseiro e olha, não sei se dei sorte ou não. Quando passei a mão, senti um negócio gosmento (sim, era a lesma), já dei um grito e joguei para o lado. Levantei rapidinho e acendi a luz. Quando eu vi a lesma no chão e me dei conta que foi nisso que eu passei a mão, quis chorar.

Gente, que desespero, que nojo, sei nem o que senti na hora. Fui correndo lavar a mão. Esfreguei tanto que limpei até a alma. Deixei a lesma lá, nem mexi em nada, fechei a porta do quarto e fomos, eu e as minhas primas, nos deitar no sofá. Fiquei tão aterrorizada que nem consegui pegar no sono, porque fiquei pensando que ia aparecer outra no sofá. Deitei-me em outra cama, em outro quarto, mas não consegui dormir.

O celular me despertou às 6h porque eu tinha que ir à casa da minha avó para ficar com o meu irmão. Assim que escutei o despertador, levantei rapidinho, peguei a minha coberta e fui num pulo para lá. Não queria passar mais um minuto na casa da tia.

É, para quem nunca viu uma lesma na vida, o primeiro contato (literalmente) foi traumático. Depois ficou todo mundo rindo e o meu tio ainda falou que era só fritar e comer. O estômago até revirou e veio na mente a sensação de encostar nela.


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

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