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Feminismo negro contra as vidas interrompidas

por Thaciana de Sousa Santos

Ocupar um espaço nas universidades é um ato político, porque a educação também é, diz colunista

 

 

 

 

Eu comentei sobre o OruMbya, o projeto de que estou participando, com aulas temáticas, que busca incentivar as meninas na ciência. A última aula foi sobre o feminismo negro.

Talvez pareça estranho essa classificação, porque já existe o feminismo. Pode ser que não haja necessidade de separar em dois, de ser especificamente negro. E é sobre ele que eu quero comentar.

A mulher negra precisa fazer muitas coisas, estar em muitos lugares e ter muitos papéis. Mas mesmo com diversas obrigações, nós não somos retratadas como cientistas nas novelas, (quase), sempre estamos em lugares de subserviência e não em grandes cargos.

O feminismo da mulher negra não é e nunca será igual ao da mulher branca. São lutas distintas e que não se alinham. Enquanto a mulher branca saía para lutar por seus direitos, em busca de um mundo igualitário, a mulher negra estava na casa dessa mulher, cuidando dos seus filhos, fazendo comida, limpando a casa e servindo seu marido.

O feminismo negro luta para que parem com a violência policial, luta para que as crianças possam estudar e ter um futuro brilhante. É sobre ter os direitos de uma vida. Somos seres humanos, que por muitos anos, tivemos nossos direitos esquecidos.

Com base na cor, fomos julgados. Engraçado como crêem que o negro tem uma propensão ao crime, ou como a maioria das pessoas nas penitenciárias são não brancas. Mas aí, eu te pergunto, por que as prisões estão cheias de pretos e as universidades não?

Por que Ágatha Félix, João Pedro, George Floyd e muitos outros tiveram um fim diferente? Ágatha podia ter o sonho de ser médica, João podia querer ser astronauta, e o George? O sonho dele podia ser ver a filha crescer, a mulher que ela se tornaria, os sonhos que conquistaria. As suas vidas foram interrompidas precocemente por violência policial. Um pedaço de todos nós é tirado quando algo tão brutal acontece.

A luta é essa e sempre foi, e eu espero, que um dia melhore. Ocupar um espaço nas universidades é um ato político, porque a educação também é. O conhecimento é a única coisa que não podem nos tirar. Estudar não é apenas um caminho para ascender na vida, não para as minorias. É um motivo para resistir e mudar o sistema.

A minha mãe deve ter negligenciado muitas coisas na vida dela para que eu pudesse seguir os meus sonhos. Para que eu pudesse me dedicar 100% aos meus estudos. E eu não sei o que faria sem esse apoio. Eu ainda tenho 19 anos e tudo o que eu fiz, até agora, foi para que a geração mais nova da minha família tenha alguém que sirva de exemplo, alguém em quem se inspirar.

A minha intenção nunca foi criar um padrão, nunca pensei que todos deveriam seguir os meus passos ou algo do tipo. Sempre foi mostrar como a educação pública é importante, porque é um meio para quem, assim como eu, é pobre e quer ter uma graduação.

Nós lutamos por uma igualdade de direitos, raça e gênero. E fazemos isso com educação!


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

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