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Estudo com influenza indica que vírus podem ser transmissíveis por partículas de poeira

Pesquisadores ressaltaram que mais pesquisas são necessárias para verificar se esse tipo de transmissão pode ocorrer com outros vírus e entre humanos

Cobaias foram pinceladas com vírus e o fluxo de ar transmitiu fômites aerossolizados para outras gaiolas (Ilustração: https://dx.doi.org/10.1038/s41467-020-17888-w)

Os vírus influenza podem se espalhar pelo ar em poeira, fibras e outras partículas microscópicas, de acordo com pesquisa conduzida por cientistas da Universidade da Califórnia em Davis e da Escola de Medicina Icahn em Monte Sinai, ambas nos Estados Unidos. Até então, acreditava-se que os vírus estavam presentes apenas em gotículas de água saídas da boca ou nariz de alguém infectado (falamos sobre essas gotículas nesta reportagem).

“É chocante para a maioria dos virologistas e epidemiologistas que poeira suspensa no ar possa carregar vírus capazes de infectar animais”, disse William Ristenpart, professor do Departamento de Engenharia Química da Universidade da Califórnia e um dos autores do artigo. “Implicitamente, se assumia que a transmissão pelo ar ocorre por causa de gotículas emitidas por tosse, espirro ou fala. A transmissão via poeira abre novas áreas de pesquisa inteiras e tem implicações profundas em como interpretamos experimentos em laboratório e também pesquisas sobre surtos epidemiológicos”.

Objetos inanimados – como maçanetas ou sapatos – capazes de reter, absorver e transportar vírus, bactérias e outros organismos causadores de doenças são chamados de fômites. Neste estudo, os cientistas avaliaram se o que chamaram de “fômites aerossolizados” – ou seja, fômites tão pequenos que podem ficar suspensos no ar – poderia transportar vírus influenza entre porquinhos-da-índia.

Usando um aparelho para contar partículas suspensas no ar, eles descobriram que porquinhos-da-índias emitem até mil partículas por segundo conforme se movem dentro de uma gaiola forrada com grânulos de espiga de milho secos (algo parecido com uma serragem feita a partir de espiga de milho) – taxa muito maior do que a das partículas emitidas pela respiração dos animais.

Em seguida, os cientistas infectaram porquinhos-da-índia com vírus influeza e mediram a contaminação ambiental em suas gaiolas, descobrindo que pelos, orelhas, patas e a gaiola mantinham vírus viáveis (capazes de infectar células) por até dois dias. Eles então usaram um pincel para cobrir com uma solução contendo vírus a pelagem dos animais previamente infectados – e portanto imunes a reinfecção – e parearam esses animais com outros suscetíveis à infecção, ou seja, botaram ao lado de uma gaiola com animal imune uma gaiola com um animal suscetível, de forma que a única transmissão possível seria pelo ar. Dos 12 pares de animais, em três houve infecção do animal suscetível, uma taxa de transmissão de 25%.

Por fim, os pesquisadores exploraram a geração de fômites aerossolizados a partir de uma fonte contaminada, mas inanimada. Eles aplicaram solução líquida contendo vírus em lenços e toalhas de papel, que deixaram secar completamente em um ambiente que evita tanto a contaminação das amostras pelo ar externo como a contaminação do ar externo pela amostra. Eles então mediram o espalhamento dos fômites ao se dobrar, amassar e esfregar os pedaços de papel, constatando a emissão de aproximadamente 900 partículas por segundo, quase todas pequenas o suficiente para serem respiradas, e constataram a presença de vírus nesses fômites.

No artigo (publicado hoje na revista Nature Communications), a equipe ressalta que o estudo se ateve a uma espécie de animal e a uma cepa de vírus influenza A, e que mais pesquisas são necessárias para verificar se esse tipo de transmissão pode ocorrer com outros vírus e entre humanos.

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