Por Thaciana de Sousa Santos
De dentro do trem, na linha esmeralda, colunista lança um olhar juvenil e angustiado a um semelhante que carrega em si a realidade trágica da fome e da insegurança alimentar no país
Vamos pular um pouco esse papo de faculdade, ainda não tem mesmo nada de novo para ser compartilhado em relação às aulas. Hoje vamos bater um papo sobre a fome.
Não é notícia nova, nem chega perto, é algo que sabemos que existe há muito tempo, e mesmo assim, ainda não acabou. Não vou entrar no ponto de que os ricos estão ficando cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Não é porque são ricos que são obrigados a ajudar.
É terrível o sentimento de não conseguir ajudar, me parte o coração ver crianças pedindo algum dinheiro no metrô ou vendendo algo no farol. Deveriam estar na escola, mas não estão.
Eu não culpo os pais, acho que nenhum de nós pode fazer isso. Ninguém, em sã consciência, escolheria estar vivendo uma vida assim com tanta insegurança alimentar.
É em momentos assim que fico imaginando: e se fosse eu? Se eu tivesse crianças que dependessem 100% de mim? O que eu faria? Acho que se fosse apenas eu, não teria nem vontade de lutar para sobreviver, mas com filhos? Que culpa eles têm?
Nesse exato momento, estou escrevendo no trem, mais precisamente na linha esmeralda e há um rapaz que está vendendo balinhas e pedindo algo para comer. Sempre me pergunto, como que eles conseguem?
Não é só levantar da cama e ir, é cansativo fazer isso dia a após dia, e ter pessoas te olhando com ar de superioridade ou pessoas em volta que apenas te ignoram.
Por causa de dias assim, eu sempre tento carregar uma bolachinha na bolsa e, quando vou jantar no bandejão, pego um pão para poder dar a quem precise.
Lembro que quando era mais nova e saía com os meus pais, sempre queria dar uma moeda para os moradores de rua. Claro que nem todos querem dinheiro para comprar uma comida, é por isso que hoje sou tão a favor de doar os alimentos.
O dinheiro é bom, eu sei, ocupa menos espaço também, mas é importante não contribuirmos para os vícios. É claro que sempre há jeito para tudo, não podemos desvincular todos dos males, mas existe pelo menos um que podemos alcançar.
Fugindo um pouco, mas não tanto. O que me dizem desse frio, hein? Claro que há quem goste, quem gosta está guardado em casa e não dormindo no frio, não é? Lembro que teve um inverno tão rigoroso que pessoas em situação de rua morreram.
Me sinto na Europa com todo esse frio e parei para pensar que não deveria ser assim, e é aí que nos tocamos de novo do aquecimento global. Não é só a temperatura elevadíssima, é a baixíssima também que ele acarreta. Conseguimos estragar o nosso único lar.
Mas se não estamos curtindo tanto a temperatura, imagina quem está na rua? Quem não pode ter uma caminha quente.
Eu não vou citar dados estatísticos sobre a fome, o que eu quero mesmo é tocar o seu coração para que olhe com mais sensibilidade para essa situação, que não é simples, que não da para resolver num piscar de olhos.
Então, eu deixo aqui o meu apelo, porque se cada um de nós, fizer um pouquinho, podemos mudar o dia de alguém. Mudar a situação do mundo inteiro é difícil, e talvez só nós não possamos fazer isso. Mas, quem sabe. um dia?
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua