Existem os livros e existem os clássicos. Cosmos, do astrônomo norte-americano Carl Sagan, certamente está na segunda categoria. Lançado originalmente em 1980, junto com uma série homônima de TV, que virou um fenômeno de crítica e audiência, o livro acaba de ganhar uma nova edição publicada pela Companhia das Letras.
Tão robusta quanto na versão original, a obra é parada obrigatória para quem quer olhar para o infinito e além, mesmo quase 40 anos depois do lançamento. Fotos imensas sobre espaços sem fim, estrelas, astros e asteroides, gigantezas ao lado da pequeneza do ser humano. Os textos compreensíveis sem ser didáticos e um convite para colecionar estrelas. Continua tudo lá.
O astrofísico brasileiro Augusto Damineli contou para a reportagem do Ciência na rua que ficou tão feliz com a re-publicação quanto com a publicação original, ainda nos estertores da Guerra Fria, momento histórico que promoveu um olhar atento para o espaço.
“Quando vi o livro Cosmos, no início dos anos 1980, logo comprei e não parei de ler até o fim. Fiquei entusiasmado em ler algo tão belo e agradável sobre um tema científico. Anos depois saiu a série Cosmos em vídeo, com 13 capítulos. A edição do livro em forma de vídeo ficou fantasticamente boa. O tema musical ainda soa em meus ouvidos e me encanta”, conta.
Cosmos foi publicado num momento de grande ampliação da pesquisa espacial em Astronomia, com o lançamento da naves Voyager e outras de exploração planetária, lembra Damineli. O assunto de viagens espaciais e a possibilidade de vida fora da Terra finalmente entraram na Astronomia como temas sérios. “Muitos profissionais que tinham receio de se expor à mídia, como era meu caso, tiveram coragem de se aventurar e falar ao público leigo sobre sua paixão pela ciência. Com Sagan, a divulgação científica atingiu o coração do grande público”, explica.
Sagan, lembra o astrofísico brasileiro, trabalhou ao lado de Lynn Margulis, sua esposa e parceira de aventuras científicas. “De Lynn, ele incorporou os temas de evolução biológica e provavelmente também foi influenciado pelas sua idéias sobre o evolucionismo biológico”.
Professor do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (IAG/USP) e militante da divulgação científica, Damineli foi, entre outras tantas coisas, organizador do Ano Internacional da Astronomia (2009), um calendário comemorativo proposto pela Organização das Nações Unidas e que, aqui no Brasil, resultou numa agenda repleta de eventos científicos, seminários e debates para popularizar a astronomia e a conquista do espaço por gente comum, estudantes e amadores.
Foi durante o Ano da Astronomia, que Augusto Damineli convenceu os ouvintes de um programa de rádio a olhar para o céu com mais carinho, porque toda a luz que vemos – inclusive aquela no olhar dos apaixonados – vinha justamente das estrelas.
Por conhecer o entusiasmo que o espaço sideral provoca é que o professor do IAG garante que Cosmos continua sendo um livro imperdível (assim como a série de vídeos). “Juntos, são capazes de arrastar mentes e corações para a aventura do conhecimento humano”. O caráter pioneiro da obra também reforça esse encantamento que gera conhecimento. Basta lembrar que somente duas décadas depois da série Cosmos os cientistas descobriram e provaram a existência da Energia Escura, que chacoalhou os fundamentos da cosmologia.
A conquista do espaço não é assunto resolvido. Longe disso. Por isso, entender quanto as pesquisas já avançaram e somar com o que ainda precisa ser decifrado (Damineli dá spoiler: “o renascimento do problema da Matéria Escura e a comprovação da existência de ondas gravitacionais”) é combustível suficiente para jovens e apaixonados continuarem buscando conhecimento. (Devemos creditar essa frase ao ET Bilu?).
Augusto Damineli torce agora por uma edição ampliada, tão saborosa quanto a primeira, que englobe e atualize esses temas candentes levantados aqui acima, porque seria mais uma chance de “entrar no âmago da natureza do Cosmos e tratar de temas da história da ciência que vão ser sempre atuais”, provoca.