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Brincando de ser cientista

por Laura Araújo

Alunos da rede pública de São Paulo participam de oficinas lúdicas propostas pelo Science Film Festival

Experiência lúdica: construir mão biônica (foto: Daniel Leite)

Livros, internet ou… a natureza? Onde cientistas encontram inspiração para criar novos conhecimentos e inovações tecnológicas? Podemos confiar em tudo que lemos na rede? “Não, porque existem fake news!”, respondeu, rapidamente, um dos 27 estudantes de escolas públicas da capital paulista, com idades de 9 a 11 anos, que participavam de uma das oficinas educativas do Science Film Festival 2022 (SFF), na quinta-feira, 10 de novembro, no Centro da Criança e do Adolescente da Unibes (CCA), no bairro do Canindé, região central de São Paulo.

Incentivadas a responder algumas perguntas sobre o dia a dia de um cientista e a pensar a respeito de onde buscariam ideias se precisassem elas próprias inventar algo, muitas crianças responderam que a internet seria o lugar adequado, com destaque, entretanto, para o devido cuidado com as fake news. Também os livros foram citados como fonte de conhecimento, mas poucos estudantes esperavam a resposta dos adultos, de que cientistas podem aprender com a natureza, e que várias invenções ou inovações tecnológicas foram copiadas de mecanismos de funcionamento de animais e plantas.

Perguntas feitas e respondidas, meninas e meninos assistiram a um curta-metragem alemão, Nove e meio – repórteres: o que é a biônica? (2019), documentário sobre cientistas que imitam soluções naturais em suas criações. Uma série de soluções tecnológicas baseadas em formas naturais, como trombas de elefantes, tubarões, camaleões, lagartixas e carrapichos foram apresentadas sob o princípio geral de que “fazer ciência inclui aprender truques com a natureza”. Uma interessante curiosidade revelada: é uma simples herbácea, o famoso carrapicho, a fonte de inspiração do velcro.

Motivados pelo filme, e com mediação de Daniel Leite e Paula Tedrus, educadores do Midiativa, empresa parceira do Instituto Goethe na realização do festival, os estudantes partiram para construir uma mão mecânica, utilizando canudinhos, copos plásticos e barbante.

Envolvimento e curiosidade – As crianças se engajaram na construção da mão biônica e na observação do produto final por pouco mais de 25 minutos. Orientados pelos instrutores, cada grupo de três a quatro alunos seguiu um passo a passo para construir sua própria peça, em que os “dedos” da mão eram canudinhos com articulações, abrigados em um copo e içados por barbantes.

Todas as atividades didáticas do Science Film Festival, segundo Leite, engajam os pequenos. As oficinas são formuladas para dois grupos etários – um até o início do primeiro ciclo do ensino fundamental e o segundo, para os maiores. Sua abordagem lúdica e mão na massa, com a proposta de um envolvimento pessoal em relação ao conteúdo ensinado, tende a ser mais proveitosa para os estudantes, na medida em que proporciona uma maior retenção dos conteúdos.

Talvez, apenas a exibição do filme no CCA Unibes não fosse suficiente para comunicar a ideia de que criar conhecimento científico está literalmente ao alcance das mãos dos estudantes, pondera Leite. “Queremos passar menos a visão da ciência como algo enciclopédico e específico e mais como um modo de ver o mundo que pode ser incorporado ao dia a dia, mesmo que em seus elementos mais básicos”.

Em certa medida, as atividades do festival completam o que é ensinado nas aulas de ciência ao retomar ou apresentar conceitos do currículo escolar, sempre propondo uma abordagem prática da questão apresentada. E os objetos das oficinas podem ser resumidos em dois: apresentar a ciência como uma esfera possível e necessária da vida e preparar os futuros cidadãos para a defesa do fazer científico e do pensamento crítico. “Cada oficina tem um objetivo específico, mas no geral buscamos valorizar a ciência e o trabalho científico, além de mostrar para as crianças que este é um campo de atuação profissional”, afirma o educador.

De acordo com Leite, a ideia é compartilhar com os alunos “o básico que funciona” em matéria de ciência. Com o reforço de noções primárias a respeito de como a natureza e o planeta funcionam, é mais simples trabalhar conceitos mais elaborados. E mais difícil, no futuro, precisar voltar a explicar concepções primárias, como o formato da Terra e a gravidade. “O conhecimento mais simples é uma arma contra a desinformação e o negacionismo”, acredita.

As oficinas também trabalham noções de letramento midiático. Entre a exibição do curta e o experimento prático há um preâmbulo em que as crianças são incentivadas a refletir sobre o que acabaram de assistir e os aprendizados proporcionados. “Queremos ajudar a torná-las cidadãos que valorizam a ciência e os processos mais apurados de análise das informações, principalmente em tempos de fake news e pós-verdade”, observa Leite. A postura ativa, e não passiva, diante do audiovisual anda de mãos dadas com a valorização da ciência. Em ambos os casos, afinal, valorizam-se as dúvidas, e não os dogmas. E há espaço de sobra para perguntar, afinal, fazer perguntas é traço marcante de crianças e cientistas.

Mão na massa para reter conceitos básicos (foto: Daniel Leite)

 

 

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