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Área de conservação de entorno de lagos e represas precisa ser maior do que diz Código Florestal
Política ambiental

por | 17 fev 2020

Agência Bori

Açude Gargalheiras, em Acari (RN) – foto: arquivo pessoal dos pesquisadores

Highlights

  • Pesquisa verificou efeitos do uso do solo em áreas próximas a lagos e represas na qualidade da água
  • Lagos e represas precisam ter faixas de conservação da vegetação natural de entorno superiores a 100 metros
  • Efeito do uso do solo na qualidade da água depende do tamanho do corpo d´água em relação à sua bacia hidrográfica e do regime de chuvas na região

Para preservar a qualidade da sua água, lagos e represas, sobretudo as de pequeno porte, precisam de áreas de conservação da sua vegetação de entorno maiores do que as faixas de 30, 50 ou 100 metros de distância estabelecidas pelo Código Florestal de 2012. Pesquisadores do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) chegaram a essa conclusão ao verificar que os efeitos do uso do solo na qualidade da água de lagos e represas do estado são fortes quando ocorrem em uma distância de até 100 metros da margem dos corpos d´água. O uso do solo em distâncias superiores a 100 metros da margem também afeta a qualidade da água dos lagos e represas de menor porte, e o regime de chuvas no local pode intensificar ou atenuar esses efeitos. O estudo está na edição de maio de 2020 da revista científica “Science of the Total Environment”.

Os pesquisadores analisaram 98 lagos e reservatórios do Rio Grande do Norte para entender como o uso do solo em regiões próximas e distantes de suas margens afeta a qualidade da água. A maioria (68%) eram represas e lagos perenes da região semi-árida, enquanto os demais corpos d´água eram da região litorânea do estado. Os pesquisadores analisaram as concentrações de nitrogênio, fósforo e fitoplâncton das amostras coletadas nesses reservatórios. Quando em excesso, esses elementos indicam que a água está imprópria para consumo. Ferramentas de análise de imagens de satélite e outros equipamentos de medição ajudaram a definir o tamanho e profundidade dos lagos e as características morfológicas do seu solo. Os pesquisadores também usaram dados de sete estações meteorológicas do estado do Rio Grande do Norte para calcular a variabilidade mensal e magnitude anual de chuvas nas regiões das bacias hidrográficas entre setembro de 2010 e setembro de 2012. Todos os dados foram cruzados e analisados a partir de modelos estatísticos.

Tamanho e chuva

Segundo a pesquisa, a qualidade da água dos lagos e represas estudados é afetada principalmente pelo desmatamento causado pela agricultura desenvolvida numa faixa de até 100 metros das margens. Além disso, a água com pior qualidade está nas represas analisadas localizadas na região semi-árida, que têm regimes de fortes chuvas concentradas em algumas épocas do ano. Elas foram construídas justamente para abastecer localidades castigadas pela escassez hídrica, medida que pode se tornar ineficiente se a qualidade da água não estiver em níveis razoáveis para o consumo humano.

Para os pesquisadores Luciana Carneiro e Adriano Caliman, coordenadores do projeto, o estudo traz dados interessantes para aperfeiçoar as políticas públicas de manejo de recursos hídricos no Brasil, principalmente em regiões mais secas. O Código Florestal de 2012, legislação em vigor, “estabelece limites fixos de áreas de conservação perto de bacias hidrográficas sem levar em conta o contexto e as peculiaridades ambientais de cada lago”, dizem os pesquisadores. Considerar dados sobre a precipitação e características morfológicas do solo como o tamanho dos ambientes aquáticos e suas bacias hidrográficas nas políticas e práticas de manejo de recursos hídricos pode ajudar a conservar a qualidade da água de lagos e represas de pequeno porte, mais sensíveis aos impactos do uso do solo, acrescenta a pesquisadora Regina Lúcia Guimarães Nobre, uma das principais autoras do estudo.

A pesquisa traz avanços para estudos da área ao apontar a relação entre o tamanho dos ambientes e suas bacias hidrográficas e do nível de chuva da região com os efeitos do uso do solo na qualidade da água, o que ainda não havia sido feito por estudos anteriores. Agora os pesquisadores estão investigando os efeitos do uso de solos na biodiversidade dos lagos, mapeando a quantidade e diversidade do fitoplâncton, por exemplo.

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