Fabio Mazzitelli, UnAN
Levantar hipóteses sobre as consequências para os camarões de um ambiente com a presença de microplásticos na água. Analisar sedimentos formadores das areias das praias da Baixada Santista. Observar o comportamento de caranguejos ou de peixes em um aquário. Descrever as diferenças entre um sapo, uma rã e uma perereca… Nos últimos quatro sábados, essa vida de cientista faz parte da rotina de um grupo de 60 meninas, com idades entre 9 e 14 anos, que passaram a frequentar os laboratórios do Câmpus do Litoral Paulista da Unesp, localizado em São Vicente.
O evento “Meninas na Ciência” reúne estudantes do ensino fundamental de escolas públicas e particulares da Baixada Santista para vivências típicas da rotina de cientistas. Ao longo de seis encontros, elas estão aprendendo todas as etapas de uma pesquisa científica: desde a estruturação de um projeto até a forma de obtenção e apresentação dos resultados. No próximo dia 9, último sábado do evento, o grupo vai apresentar aos familiares o trabalho resultante das experiências feitas em laboratório. Tudo com base em evidências, no método científico.
“Nunca tinha aberto um peixe, visto o que o peixe tem por dentro. O estômago é grudado no intestino”, espanta-se Tuany Cruz Giangiulio, de 11 anos, aluna do 6º ano do ensino fundamental de uma escola estadual de Santos.
O “Meninas na Ciência” reúne estudantes de Santos, São Vicente, Praia Grande, Cubatão e Guarujá. Metade da rede pública e a outra metade, de colégios particulares. Devido à grande procura, com mais de 300 inscritos para a iniciativa, as participantes foram selecionadas por meio de sorteio. Durante as atividades, as meninas são acompanhadas de professores e funcionários do câmpus, além de estudantes de graduação e de pós-graduação, que explicam conceitos básicos e ajudam no levantamento de hipóteses e na estruturação dos experimentos.
“O importante é mostrar o método científico para elas”, afirma o professor Leandro Mantovani Castro, do Laboratório de Proteínas e Peptídeos Marinhos.
O docente deu suporte a um trabalho em que as estudantes observaram o comportamento de peixes “paulistinhas”, ou “zebrafish”, em aquários com e sem enriquecimento ambiental. Um experimento para verificar se o ambiente do aquário tem impacto no bem-estar animal, com base na análise por computador dos deslocamentos dos peixes, feita a partir de vídeos que registraram os movimentos deles.
“Fez diferença no jeito que o peixe ficou”, diz a aluna Raissa Sousa de Oliveira, de 14 anos, acreditando pelos resultados levantados que os peixes ficam “mais calmos” em ambientes que simulam o habitat deles.
No Laboratório de Herpetologia, as alunas tinham a tarefa de anotar em um caderno as diferenças que observavam entre três espécies de anuros –um sapo, uma rã e uma perereca. Enquanto uma das meninas escrevia, outra se preocupava em manter os animais úmidos com borrifos de uma solução de álcool 70%.
“Embora sejam animais da mesma ordem, são bastante diferentes. Elas vão fazer a descrição e a classificação deles e fazer a relação disso com a ecologia dos bichos”, explica o professor Ivan Nunes.
As 60 meninas foram divididas em dez grupos, cada qual em um laboratório diferente. Todas trabalhando em projetos com introdução, justificativa, objetivo, discussão de resultados, referências… “Permitir que as alunas do ensino fundamental frequentem os laboratórios de pesquisa das universidades é uma boa estratégia para aproximá-las da ciência. E a gente vê que a ideia de ciência e pesquisa delas vai mudando”, afirma a professora Alessandra Augusto, responsável pelo “Meninas na Ciência” no câmpus do litoral. “Tivemos um ótimo engajamento e isso é muito gratificante. Elas estão adorando e me perguntando se vai ter de novo no ano que vem”, diz a docente.
O Câmpus do Litoral Paulista da Unesp abriga o Instituto de Biociências e oferece desde 2002 o curso de graduação em Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura), o primeiro curso de graduação de uma universidade pública implantado na Baixada Santista.