foto da home: Rosie Anderson/Silverback/Netflix
[contém spoilers]
A Netflix lançou, no dia 5 de abril, a série Our planet, opulenta produção sobre a ecologia de distintos hábitats da Terra e os riscos a que estão submetidos por causa da influência humana. São oito episódios, um introdutório, mais geral, e os sete seguintes, mais específicos: mundos congelados, florestas tropicais, mares costeiros, desertos e estepes, alto mar, água doce e florestas não tropicais.
A locução da série fica a cargo do veteraníssmo David Attenborough, referência fundamental em documentários sobre natureza. Sir David – que tem desde 1985 o título de cavaleiro – começou a produzir programas ligados a história natural ainda nos anos 1950, na BBC.
É provável que o maior trunfo da série seja o impacto visual. Algumas imagens impressionam pela beleza, como as de corais, outras pela grandiosidade da concentração ou do tamanho dos animais, como uma praia cheia de aves ou uma baleia azul com seu filhote. O que se espera de um bom documentário de natureza, afinal.
Talvez as imagens mais marcantes da série, porém, choquem pela violência: morsas despencando de um paredão rochoso de onde não sabem descer, após subirem para evitar a enorme concentração na praia. Além da violência, essa imagem sintetiza boa parte do que a série narra: as mais de 100 mil morsas estão todas concentradas porque não existe mais o gelo onde tinham espaço para ficar entre um e outro mergulho para pegar peixe. A ação humana, seja pelo desmatamento, pela pesca sem controles ou por comportamentos que contribuem para o aquecimento global, está todo o tempo presente na locução. Nesse sentido, a série é um alerta para a situação de emergência em que o planeta se encontra por nossa causa. Afora a destruição, mostra-se também alguns casos em que esforços conservacionistas conseguiram reverter tendências. No fim de cada episódio, há um chamado para o site da série, onde se apresentam possíveis soluções para começarmos a desfazer o estrago que fizemos no planeta.
Sem dúvida esse olhar conservacionista é importante, quase inescapável, em 2019, assim como a responsabilidade direta da nossa espécie sobre o problema. No entanto, como observou Adam Vaughan na Newscientist, “os pontos nunca são totalmente ligados para expôr o ser humano no meio da pressão. O ‘ritmo assustador’ da mudança no Ártico é examinado, da perda de gelo marinho a imagens espetaculares de geleiras se soltando e uma enorme extensão de gelo da Groenlândia se partindo. As emissões de carbono, empresas de combustível fóssil e o consumo humano por trás dessas mudanças rápidas, contudo, estão ausentes”.
No site da série, há vídeos com propostas sobre como reverter a destruição do meio ambiente. Ainda assim, parte considerável da ênfase é colocada sobre atitudes individuais ou de forma vaga. Por exemplo, a maior parte da opinião pública provavelmente está de que acordo que “precisamos trocar os combustíveis fósseis por renováveis”, mas há interesses difíceis de desmobilizar que querem o prosseguimento da exploração desses combustíveis. Em certa medida, a série fica devendo essa visão sistêmica, embora chame a atenção para coisas muito importantes.
O estilo audiovisual segue bastante os padrões do gênero: edição e música criam momentos engraçados, momentos “familiares” ternos, momentos épicos. A classificação indicativa para a série é a partir dos 8 anos. Se for assistir com alguém tão jovem, talvez seja bom se preparar para os momentos dolorosos, como a sequência mencionada das morsas despencando. Para quem gosta de documentários de natureza e suas imagens espetaculares, a série é muito recomendada. Convém também aceitar o convite de cada episódio e ir fuçar o site.