Luiza Moura avalia a Conferência das Partes sobre biodiversidade
A COP 16 está acontecendo neste momento, na cidade de Cali, na Colômbia. A 16ª Conferência das Partes sobre biodiversidade tem um papel fundamental e central na discussão sobre meio ambiente que todo o mundo realiza atualmente. Essa Conferência das Partes é mais um encontro entre os líderes mundiais para discutir e conversar sobre questões relevantes. Nesse caso, a reunião tem como objetivo discutir a biodiversidade global e as formas de preservá-la. Não se trata, portanto, da COP do Clima, aquela que acontece todos os anos em novembro e que , em 2025, terá sua 30ª edição em Belém, aqui no Brasil. As COPs da Biodiversidade acontecem a cada dois anos e costumam ter menos visibilidade do que outros eventos que discutem questões climáticas e ambientais.
Bem, a conferência tinha esse objetivo. Mas a real é que ela foi bastante esvaziada, sem a presença de relevantes líderes mundiais e sem o prestígio ou a relevância que outras conferências internacionais estão tendo. O próprio presidente Lula não foi para a Colômbia participar das negociações (ele desmarcou a participação e outras viagens no período por orientação médica, após bater a cabeça em um acidente doméstico). Outros líderes mundiais, como Joe Biden e Emmanuel Macron, que gostam muito de dizer que são amigos das pautas ambientais, também não estiveram presentes.
Essas ausências e esse esvaziamento foram notados inclusive pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, que afirmou: “Vocês falam de mudanças climáticas e, sem dúvidas, é uma questão sobre a qual devemos discutir. O New York Times afirma que a COP16 é a mais importante da história em termos de biodiversidade. O povo se reuniu, mas não os governantes, e nem mesmo Lula me acompanhou”. Ai, Petro. Que bom que você existe, que é presidente e que tem falado o que tem que ser falado.
E aqui eu vou fazer uma rápida digressão para mencionar o quão importante tem sido a posição colombiana em relação às pautas climáticas que vêm sendo discutidas recentemente. Foi Gustavo Petro que na Cúpula da Amazônia, no ano passado, defendeu que nós deveríamos parar de explorar petróleo na região amazônica. Meio óbvio, né? Mas vale lembrar que o Brasil continua com a ideia tresloucada de explorar petróleo na foz amazônica, na costa do Amapá. Foi o Petro também que fez um dos melhores discursos na Assembleia Geral da ONU, no ano passado, salientando a urgência e a necessidade de olharmos para a crise climática.
Enfim, voltando à COP 16, fico me perguntando se os líderes mundiais acham que discutir a biodiversidade do planeta não é importante. Ou se eles só participam da COP do Clima, que esse ano vai rolar em Baku, Azerbaijão, porque ficou quase pop viajar por aí, dizer que gosta da natureza, ama os animais e depois voltar pra casa e não fazer nada.
Porém, apesar do esvaziamento, precisamos também reconhecer importantes avanços. A COP 16 foi a primeira a reconhecer a participação negra na conservação e na manutenção da biodiversidade global. Um passo fundamental para reconhecer o papel e a importância de pessoas e grupos que durante séculos foram apagados e silenciados, sendo invisibilizados por esse sistema.
De forma geral, a COP 16 deixou a desejar. Não por falta de organização colombiana ou por falta de importância. Mas porque os nossos grandes líderes mundiais não compareceram, não entenderam a importância ou só resolveram ignorar tudo isso mesmo. Vamos torcer para a COP 29, do clima, ser mais prestigiada.