jornalismo, ciência, juventude e humor
Ciência brasileira de luto no último dia de maio

Segunda-feira foi tristemente marcada pelas mortes do jornalista Maurício Tuffani e do físico Sérgio Mascarenhas

Fotos: Nariana Costa / UnB e Marcos Santos / USP Imagens

A segunda-feira, 31 de maio, marcada no front do jornalismo científico por uma mescla de surpresa e densa tristeza que se estendia desde o final da manhã, encaminhava-se já para seu final quando começou a circular a notícia de uma segunda morte que fizera colheita no campo da ciência e da divulgação científica em São Paulo. Se cedo o choque viera do falecimento inesperado do jornalista Maurício Tuffani, 63 anos, em meio a uma reunião de pauta online do Jornal da Unesp, da qual ele era editor-chefe, já por volta das 11h da noite a informação que passou a circular intensamente foi a da morte do professor Sérgio Mascarenhas, físico, 93 anos, uma personagem notável por suas contribuições para o desenvolvimento da ciência, da inovação em seu campo e da ampla divulgação científica.

Sobre Mascarenhas, uma personalidade magnética, um fantástico prosador, sempre numa espécie de moto contínuo ou num jorro ininterrupto de grandes ideias para transformar o mundo e o país que ele desejava desenvolvido e vibrante, mestre de dezenas, talvez centenas de aplicados e talentosos discípulos, o Ciência na rua deixa aqui, para homenageá-lo, o link de uma longa entrevista que fiz com ele para a revista Pesquisa Fapesp em 2007. Deixa também o de um vídeo mais recente, da mesma revista, que tem o notável mérito de revelar como esse homem era capaz de tomar um problema pessoal de saúde e inventar uma solução inovadora de utilidade pública – um novo artefato que ajudaria a ele e a muito mais gente vítima de pressão intracraniana.

Por último, o Ciência na rua também publica um texto especial de Maria Vicentini, sua fiel escudeira nas lides da comunicação nos últimos 13 anos, que, hoje pela manhã, triste, falou-me dos muitos projetos que ele deixa inconclusos e lembrou-me como ele se despedia carinhosamente de todos que lhe eram mais próximos, depois de papos cheios de entusiasmo. “Abreijos”, ele dizia ou escrevia e fica valendo aqui para todos os familiares e a legião de amigos de Sérgio Mascarenhas.

Quanto a Tuffani, jornalista extremamente talentoso na investigação de fatos sobre ciência e política científica, na escrita dos textos, na edição de material jornalístico, seu ou de outros, na formação de jovens profissionais e na criação de novos veículos de comunicação – por exemplo, a revista Unesp Ciência e o site Direto da Ciência –, a Agência Fapesp dá hoje uma boa noção dos percursos a que o levaram 30 anos de exercício contínuo dessas múltiplas capacidades.

“Referência no jornalismo científico (…), ele começou a trabalhar na imprensa em 1978, como revisor dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, quando ainda estudava matemática e filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e era professor de matemática e física no ensino médio”, conta a agência.

“Foi redator-chefe da revista Galileu, editor e repórter do caderno de ciência da Folha de S. Paulo, assessor de comunicação em secretarias do governo de São Paulo, na reitoria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde foi também fundador e diretor editorial da revista Unesp Ciência. Além disso, atuou como editor executivo no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Brasil”, completa.

Não ficou de fora da minibiografia distribuída pela agência sua posição como editor da Scientific American Brasil até 2016, quando se voltou para o seu site, Direto da Ciência, “com foco nas decisões políticas, nos bastidores, nos conflitos internos e na exposição de temas de interesse público que, em geral, permanecem em nível restrito nos círculos acadêmicos e nos meios governamental e não governamental, entre eles, as publicações acadêmicas que, segundo ele dizia, ‘desrespeitavam padrões científicos de qualidade’”.

Maurício Tuffani, criativo sempre, bem humorado, defensor vigoroso de suas opiniões com frequência polêmicas, voltou a exercitar seu lado professor no Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico na Universidade Estadual de Campinas (Labjor-Unicamp), o Núcleo José Reis de Divulgação Científica da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP) e integrou por vários anos o conselho editorial da Pesquisa Fapesp.

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