Mercedes Bustamante, em ciência, e Marcelo Rubens Paiva, em cultura, são os ganhadores do Prêmio FCW 2025

Fotos: Mercedes Bustamante (CRBio), Marcelo Rubens Paiva (Harald Krichel / CC BY-SA 4.0)
A Fundação Conrado Wessel (FCW) entregou em solenidade na noite de quinta-feira, 30 de outubro, os prêmios concedidos à respeitada bióloga Mercedes Bustamante, pesquisadora e professora da Universidade de Brasília (UnB), por suas contribuições aos estudos das mudanças climáticas, e ao escritor Marcelo Rubens Paiva, pela importância e repercussões de seu livro Ainda estou aqui (Alfaguara, 2015), a par do significado do conjunto de sua obra literária, iniciada em 1982 com o livro Feliz Ano Velho.
Cada um recebeu R$ 400 mil, valor que situa os prêmios FCW, instituídos desde 2002, entre os mais generosos do cenário cultural brasileiro. Em ciência, ele é o segundo mais elevado (só superado pelos R$500 mil do prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração em parceria com a Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), enquanto em cultura/literatura, consideradas exclusivamente as láureas nacionais, é de fato o mais alto.
A premiação da FCW tradicionalmente inclui fotografia, e o ensaio fotográfico vencedor deste ano foi o de Érico Hiller. Dentro do mesmo tema — mudanças climáticas –, classificaram-se ainda Fernando Madeira, em segundo lugar, e Raoni Maddalena, em terceiro, com os votos do público presente na cerimônia. Os prêmios são respectivamente de R$ 70 mil, R$ 30 mil e R$ 20 mil.
“O Prêmio FCW confirma, nesta edição de 2025, a importância da ciência, da cultura e da arte da fotografia na sociedade brasileira, destacando o tema das mudanças climáticas e da democracia cantada e ecoada na nossa literatura”, disse Carlos Vogt, presidente da Fundação Conrado Wessel, ao Ciência na Rua.

Érico Hiller – São Paulo
Quem é quem
A bióloga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Mercedes Maria da Cunha Bustamante nasceu no Chile e é brasileira naturalizada. Doutora em Geobotânica pela Universidade de Tréveris, na Alemanha, ela tem, em paralelo a sua vinculação à UnB, passagens importantes por diversos órgãos governamentais da área de ciência, tecnologia e educação, inclusive a presidência da Capes em 2023. Entretanto, com sua respeitada especialização em ecologia e mudanças de uso da terra no Cerrado, é no campo das mudanças climáticas que se destaca em âmbito nacional e internacional e, nesse sentido, é referência obrigatória em seu percurso como cientista a autoria do capítulo sobre agricultura e florestas do 6º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Já Marcelo Rubens Paiva, desde que ainda muito jovem lançou Feliz Ano Velho, livro em que narra a experiência de se tornar tetraplégico após um acidente, e já superou a marca das 200 edições publicadas, é escritor respeitado e premiado, autor de mais de uma dezena de obras. Entre elas, está Ainda estou aqui, um relato pungente e poderoso sobre a luta de sua mãe, Eunice Paiva, para elucidar o assassinato do marido Rubens Paiva, em 1971, pela ditadura de 1964-1985, publicado em 2015.
Dez anos depois, o livro voltaria à categoria de best-seller graças ao filme do mesmo nome que o tomou por base. Dirigido por Walter Salles, tornou-se o primeiro longa metragem brasileiro a conquistar um Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional. No papel de Eunice Paiva, Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro de melhor atriz.
O prêmio de fotografia, aberto a fotógrafos profissionais de todo o país em sua 19ª edição, contemplou, dois ensaios clássicos e uma encenação planejada. “Os ensaios do paulista Érico Hiller e do capixaba Fernando Madeira são críticos e denunciam situações extremas provocadas pelas mudanças climáticas: o drama da seca no Norte e Nordeste brasileiros e o drama causado pelo excesso de água no Sul e Sudeste do país”, disse o coordenador Rubens Fernandes Junior. Já “o ensaio de Raoni Maddalena, de fina ironia e resultado de uma planejada encenação, denota alguma esperança ao atribuir protagonismo aos catadores de resíduos sólidos na cidade de São Paulo, que serão reciclados e devolvidos à sociedade”, completou.
Cabe lembrar que a Fundação Conrado Wessel, idealizada e explicitada em testamento pelo criador da primeira fábrica brasileira de papel fotográfico, Ubaldo Conrado Augusto Wessel (1891-1993), foi instituída em 1994 com a finalidade de voltar-se à filantropia e ao apoio de atividades culturais, artísticas e científicas no Brasil. Em 2002 foi lançado o Prêmio Fundação Conrado Wessel, destinado a personalidade ou entidade de reconhecimento nacional nos campos da arte e da ciência, sempre considerando o valor de seu trabalho para o desenvolvimento científico, tecnológico ou cultural no país.



