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Um quarto das estrelas semelhantes ao Sol engolem planetas em suas órbitas
Astrofísica

por | 2 set 2021

Descoberta pode impactar na busca por vida complexa fora da Terra

Imagem artística de engolfamento planetário / Vanderbilt University

Um estudo internacional feito com sistemas binários de estrelas com temperaturas similares às do Sol constatou que parte considerável delas engolfou em algum momento planetas que as orbitavam. Os pesquisadores usaram a técnica de espectroscopia, que interpreta a emissão e absorção de radiações eletromagnéticas de um corpo (ultravioleta, infravermelha etc) para definir quais elementos estavam presentes na área mais superficial das estrelas, a chamada zona de convecção.

As duas estrelas que compõem um sistema binário nasceram juntas, da mesma nuvem, portanto foram formadas com os mesmos elementos e deveriam ser quimicamente idênticas. Ao se comparar a composição química dessas duas estrelas e se constatar uma diferença, a conclusão é de que algum planeta ou alguns planetas acabaram sendo puxados para a zona de convecção, e materiais que formavam esse planetas permaneceram ali. Assim, se uma estrela apresenta quantidades de ferro, por exemplo, superiores à da outra estrela do sistema, a explicação é que um planeta com ferro em sua composição foi engolido pela estrela.

Escolhendo estrelas relativamente semelhantes dentro de um mesmo sistema, os pesquisadores conseguiram maior precisão na composição química relativa entre elas, explicou por e-mail ao Ciência na Rua Jorge Melendez, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), um dos autores do artigo, publicado no último dia 30 na revista Nature Astronomy.

Um avanço do estudo em relação a outros trabalhos sobre o mesmo tema foi o tamanho da amostra, 31 pares, além da diversidade de estrelas. Em estudos anteriores, foram investigados apenas casos isolados, o que não permitiu estabelecer uma frequência para o fenômeno. “Já em nosso trabalho, mostramos que cerca de um quarto das estrelas de tipo solar parecem engolir seus planetas”, contou Melendez.

Essa proporção pode ter impactos na busca por vida complexa fora do nosso planeta. De acordo com Melendez, “A maioria de astrônomos acredita que a vida mais simples (microscópica) é relativamente comum no universo. Porém, para que a vida mais complexa se desenvolva, parece ser necessário uma longa escala de tempo, de alguns bilhões de anos. A Terra tem cerca de 4500 milhões de anos, mas apenas nos últimos 500 milhões de anos é que a vida complexa se desenvolveu. Nesse sentido, a estabilidade orbital de sistemas planetários como o Sistema Solar, parece ser fundamental para o desenvolvimento de vida complexa.”

O estudo usou o espectrógrafo HARPS no telescópio de 3,6 metros do Observatório La Silla do Observatório Europeu do Sul (ESO), que fica no deserto do Atacama, no Chile.

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