por Thaciana de Sousa Santos
Há que se entender o próprio processo, as diferenças de vida e de aprendizado para seguir em frente, diz colunista
Eu realmente acreditei que esse semestre seria mais tranquilo, que daria conta. Não tranquei matéria nenhuma, mas em compensação, a vontade é de trancar o curso. Tem sido exaustivo em um nível que me faltam palavras para descrever. Não tem um dia em que o desespero não me alcance. Infelizmente eu faço física e não tenho físico para estar correndo dele.
Achei que lidaria super bem com o fato de estar refazendo a disciplina que, tecnicamente, sei o conteúdo. Mas, olha, não. Não está sendo assim. Tem dia que eu saio 10h de casa para ir fazer a prova e passo o dia todo na faculdade e só chego de volta 00:40h. Eu não aguento e tiro um cochilo por lá.
Estou refazendo física 1, on-line, 12h, no horário do almoço. Quase sempre é uma loucura. O meu irmão, Paulo, vai para escola 12:30h, então é aquilo: bora trocar de roupa, colocar o tênis, escovar os dentes, encher a garrafinha, passar creme e perfume e esperar a van escolar.
Depois que ele sai, eu já perdi o começo da aula, já nem entendo mais o que o professor está falando e vou almoçar. Depois, corro atrás do conteúdo.
As minhas aulas do período ideal também estão difíceis de acompanhar. As aulas de cálculo são meio rasas, sem muita informação. E a prova? Seria cômico se não fosse trágico, quase a turma toda tirou nota abaixo de 5, só uma pessoa tirou acima.
O professor não considerou nem se o conteúdo estava certo, foi uma chuva de nota ruim. Mas foi esse o curso que eu escolhi, né? É a vida que eu tenho agora.
E física 2? Dá até uma tristeza falar sobre isso. Na segunda eu tive aula dessa disciplina e só não chorei porque não dava tempo. Em duas horas de aula, a professora falou sobre termometria, que é temperatura e as medições; dilatação térmica, como os objetos dilatam com o aumento da temperatura; definiu calor com o experimento de Joule, que é energia em trânsito. E sim, gente, falamos errado a vida toda. Calor não é uma sensação térmica. Quando está 30 graus, não está calor, está quente. Ela falou também sobre radiação, convecção e condução e depois entrou em calorimetria, que é a medição da quantidade calor, levando em conta a temperatura ou não.
Só não foi falado mais porque não havia tempo. Porque se houvesse, coitado do meu cérebro! Eu ainda não encontrei o método de estudos mais eficiente, deve ser por isso que estou tendo tanta dificuldade. Claro que o curso em si é difícil e se eu não sei como aprender, e é isso que estou enfrentando.
Está impossível lidar com o curso, não consigo evoluir e realmente aprender. Na hora das provas fico tão desesperada que nem consigo pensar, é tudo muito no automático, só coloco os valores nas fórmulas. Vejo todo mundo fazendo e eu não consigo. Penso se deveria estar ali mesmo, e o medo de reprovar de novo?
Preciso descobrir onde estou errando e melhorar. Entender o meu processo e entender que não sou como os outros. Eu tenho uma vida diferente, um aprendizado diferente e outras dificuldades. E não entender esses fatos tem me prejudicado muito, desde o início.
Já me senti feia nessa vida, agora a sensação de ignorância é insuperável. Se me sinto feia, passo uma maquiagem, pinto o cabelo, faço alguma coisa para dar um jeito. E quando não me sinto inteligente? Não dá para passar maquiagem.
A baixa autoestima intelectual tem sido o meu maior inimigo durante o primeiro ano. Eu sei que atividades físicas ajudam muito e eu quero ter tempo para fazer alguma. Colocar a mente e o corpo em harmonia e assim, melhorar o rendimento como estudante.
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua