ONG escolhe cerrado da Chapada dos Guimarães para criação de Santuário
O primeiro Santuário de Elefantes da América Latina, na Chapada dos Guimarães, no estado do Mato Grosso, começou a receber os primeiros animais este mês. A área de mais de mil hectares acolherá elefantes que “trabalhavam” em circos ou zoológicos particulares ou clandestinos. A iniciativa é das ONGs Global Sanctuary for Elephants, dos EUA, e da ElephantVoices, que buscam conscientizar para a crueldade do cativeiro de animais selvagens.
“Os elefantes não se adaptam ao cativeiro. Há evidências suficientes de que nessas condições eles sofrem de enfermidades físicas e mentais, que frequentemente levam à morte prematura”, explica Júnia Machado, que representa ElephantVoices Brasil.
O santuário tem licença para receber até 25 animais, mas a ideia é ampliar essa permissão. Isso porque o objetivo da ONG é acolher todos os 50 elefantes catalogados na América do Sul. Eles são monitorados permanentemente por meio de um projeto, que também negocia com os poderes públicos locais sua transferência.
A região escolhida para briga-los foi definida após uma grande pesquisa de campo que percorreu mais de cem propriedades em toda a América do Sul. Segundo os idealizadores, o cerrado mato-grossense se mostrou ideal, já que o bioma, também chamado de savana brasileira, está na mesma latitude das regiões onde esses animais são originalmente encontrados na África e na Ásia.
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O local é uma fazenda de gado desativada, com pasto nativo e plantado de alta qualidade. Os futuros moradores terão à disposição uma grande diversidade vegetal, oferta de água e temperatura adequada.
Outro fator que ajudou a definir o Brasil como sede do santuário são as mudanças esperadas na legislação. Uma lei nacional para proibir o uso de animais em circos está sendo discutida no Congresso. Atualmente onze estados brasileiros já têm leis nesse sentido. A ampliação dessa restrição para todo o país trará como consequência imediata um aumento no número de elefantes resgatados e a necessidade de um local adequado para abrigá-los.
Júnia explica que a manutenção do santuário representa uma série de desafios, já que não é fácil oferecer refúgios verdadeiramente seguros e com conforto para elefantes vindos de outras formas de cativeiro ou mesmo filhotes órfãos. Ela também destaca que muitos desses indivíduos chegam ao local com sequelas de maus tratos severos.
“Sabemos de um caso de um homem no Brasil que mantém cinco elefantes presos e em más condições. Ele consegue esconder os animais da fiscalização há anos”, conta. “Mas nós estamos sempre monitorando as informações sobre ele com a esperança de fazer o resgate, como já estamos fazendo com outros animais.”
A ONG é contra a presença de elefantes em zoológicos. Por isso, além do santuário, eles promovem ações de conscientização, como visitas a escolas, onde descrevem o sofrimento desses animais nos cativeiros e também falam sobre o comércio marfim. “A cidade de Buenos Aires acaba de desativar seu zoológico municipal e vai enviar os animais exóticos para santuários. É uma iniciativa formidável que gostaríamos de ver multiplicada.”
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Grandes Jardineiros
Por serem animais de grande porte e comedores de frutas, raízes e folhas, os elefantes são muito eficientes na dispersão de sementes e na fertilização da terra. Eles absorvem apenas 30% dos nutrientes que comem, devolvendo o restante desse material nas fezes. E como caminham o tempo todo atrás de comida, seus passos pesados terminam o trabalho de “jardinagem”, com o melhoramento do solo e a germinação de plantas.
O biólogo e ecologista Mauro Galetti, professor da Unesp de Rio Claro, lidera uma pesquisa em parceria com o santuário para caracterização de fauna e da flora da região. Ele é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Biodiversidade da unidade. Sua participação no projeto permitirá avaliar os impactos da presença dos elefantes para a recuperação de áreas degradadas do cerrado.
O trabalho dos pesquisadores da Unesp também pode inaugurar uma nova área de pesquisa para cientistas brasileiros e da América do Sul. Isso porque há muito pouca pesquisa na região sobre a interação desses animais com os biomas do continente americano.
O Santuário de Elefantes não é uma atração turística e não será aberto à visitação. O objetivo do projeto é reparar os traumas sofridos pelos animais e de quebra promover a recuperação de uma área ambiental degradada. Todos podem participar do projeto por meio de doações, que serão usadas principalmente para pagar os custos de resgate e transporte dos animais. O link para doação e outras informações podem ser acessados em https://santuariodeelefantes.org.br/.