Renato Coelho, Jornal da Unesp

Crescimento de casos na Ásia e na Europa vai na contramão de planos do governo brasileiro, que já fala em reclassificar status da covid-19 para endemia. Rejane Grotto diz que queda no número de testagens e opção por não usar máscara num contexto que favorece aglomerações podem aumentar chances de contaminação.

Foto: CDC / Pexels

Após uma redução acentuada no índice de mortes por covid-19 no Brasil, o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou em entrevista à TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Rio Grande do Norte, que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vai decretar o fim da pandemia por meio de uma portaria no início do mês de abril.

Já sinalizado por Queiroga, o plano do governo é reduzir o status da covid-19 aqui no país de pandemia para endemia, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) não tenha decidido nada nesse sentido. De acordo com Bolsonaro, “não se justifica mais todos esses cuidados no tocante ao vírus”. “Parece que a situação da pandemia acabou”.

O fato, porém, é que diferentes regiões no mundo estão retomando os lockdowns e lutando contra um aumento significativo de casos. A China, por exemplo, mandou confinar cerca de 41 milhões de pessoas por causa de surtos de covid-19 no país na semana passada. Já a Coreia do Sul registrou no dia 17 um novo recorde diário de casos, com mais de 620.000 infecções provocadas pela variante ômicron. Trata-se do maior número de infecções num período de 24 horas na Coreia do Sul desde o início da pandemia.

Em entrevista coletiva à imprensa, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, disse que, depois de seis semanas de queda no número de casos, as infecções por covid-19 estão subindo novamente pelo mundo, especialmente em partes da Ásia. O diretor também destacou que, num contexto em que cada nação lida com desafios distintos, “a pandemia não acabou”.

Rejane Maria Tommasini Grotto, bióloga molecular e pesquisadora em virologia do câmpus da Unesp em Botucatu, alerta que a decisão adotada por diversas autoridades no Brasil de dispensar uso de máscara é precoce. Em entrevista ao Podcast Unesp, ela relata que países como China, Reino Unido, Alemanha e outros estão registrando um aumento de casos neste momento. Esse aumento está ligado à ação de uma subvariante da variante ômicron conhecida como BA2, que é ainda mais contagiosa. Porém, o surgimento desta subvariante, por si só, não pode explicar a elevação dos casos naqueles países.

A pesquisadora aponta que esta elevação coincide com a suspensão do uso de máscaras e a cessação da política de testagem em massa, adotada durante boa parte da pandemia, que já ocorreu em muitos países. “Estas mudanças terminam por ocasionar mais oportunidades para a ocorrência de festas e aglomerações o que pode levar a uma transmissão maior do vírus”, diz ela.

Ela diz que não é possível saber se no Brasil se manterá a atual tendência de redução nas estatísticas de casos e mortes. Mas que, com a combinação de mais encontros presenciais, na forma de festas e encontros sociais, com a queda no uso de máscaras, “é bastante óbvio que isso aumenta as chances de contaminação no caso da presença de um indivíduo infectado”, diz. “E ainda não sabemos qual será o impacto da introdução da variante BA2 no Brasil.” A combinação destes fatores faz com que Rejane se junte a outros estudiosos que estão considerando precoce a suspensão da obrigatoriedade do uso de máscaras. “A pandemia não acabou”, reforça.

Para ouvir a íntegra da entrevista com Rejane Grotto, clique abaixo.

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