A temida pressão alta durante a gravidez, um dos maiores riscos existentes para mães e bebês, pode ser detida se forem “desligados” genes da placenta, na técnica conhecida como silenciamento de RNA, de acordo com reportagem publicada pela revista Newscientist. A pré-eclâmpsia, como é chamada, atinge até 10% das gestações, podendo afetar os rins e o fígado da mãe e levar a convulsões e derrame. Quando se agrava, a única saída é antecipar o parto, ainda que muito prematuramente, o que leva a gestante à difícil escolha entre sua própria saúde e a do filho. Na pesquisa conduzida na Universidade de Massachussetts por Melissa Moore, os testes conseguiram normalizar a pressão sanguínea de macacas babuínas.
A pré-eclâmpsia ocorre quando a placenta, por algum motivo, não é efetiva o suficiente e, para compensar, libera proteínas no sangue da mãe, elevando a pressão sanguínea e aumentando assim a quantidade de nutrientes e oxigênio que chega para o feto. Esse aumento da pressão, no entanto, traz riscos para a mãe.
O desenvolvimento de tratamentos para a doença tem sido lento, em parte porque a indústria farmacêutica teme causar problemas no parto. A técnica testada em Massachussetts pode diminuir esse risco. Ela consiste em destruir trechos de RNA que carregam instruções para a síntese de proteínas – no caso da pré-eclâmpsia, uma proteína específica da placenta, chamada FLT.
Nos testes, a equipe induziu pré-eclâmpsia em nove macacas e injetou a droga em três. As placentas dessas três apresentaram, nas semanas seguintes, menor pressão sanguínea do que as das outras seis. Os filhotes, no entanto, nasceram um pouco menores do que a média, o que pode indicar a necessidade de um ajuste de dosagem. Esse tipo de tratamento é promissor porque a droga não atravessa a placenta, diminuindo os riscos de efeitos colaterais, e porque uma dose apenas pode funcionar por semanas, tornando o tratamento acessível, especialmente em países pobres, onde a doença causa muitas mortes.
Melissa Moore, que desenvolve tratamentos com RNA para muitas doenças, tem um motivo pessoal para querer combater a pré-eclâmpsia: 15 anos atrás ela quase fez uma cesariana de emergência quando faltavam ainda 10 semanas para o parto. Um dos médicos do hospital perguntou se ela poderia ceder a placenta para pesquisa e explicou que fazia parte da equipe que havia descoberto que a proteína FLT aumentava a pressão sanguínea durante a pré-eclâmpsia. A condição de Moore acabou melhorando e seu filho nasceu sete semanas antes do previsto, sem sequelas. E ela, além de doar a placenta para o médico e pesquisador Ananth Karumanchi, do Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, acabou colaborando com ele em pesquisas sobre pré-eclâmpsia.