Por Luiza Moura
Apaixonada por Aruanas, colunista recomenda enfaticamente a seguidores e leitores ver os episódios dessa série que representa o dia a dia dos ativistas de maneira bonita e realista
Ontem à noite, em uma brincadeira, a minha mãe me perguntou “se você tivesse todo o dinheiro do mundo, você ia trabalhar com o quê?”. Eu respondi sem nem pensar muito “Eu ia abrir uma Aruanas e ser diretora de advocacy”. Tá, peraí que eu explico. Aruanas é o nome de uma série produzida pela TV Globo e que conta a história de três amigas ativistas socioambientais: Verônica (Taís Araújo), Luiza (Leandra Leal) e Natalie (Débora Falabella).
Na série, as três amigas são fundadoras de uma ONG de proteção ambiental, a Aruanas, e juntas elas realizam uma série de ações em defesa da pauta socioambiental. Enquanto a primeira temporada gira em torno do tema do garimpo ilegal na Amazônia, a segunda parte tem ume enfoque na poluição do ar e das indústrias petrolíferas (viu, gente, PÉSSIMA IDEIA, explorar mais petróleo, principalmente na Foz do Amazonas).
Como ativista, é uma mistura de sentimentos muito doida assistir a essa série. Primeiro, quero dizer que eu sou apaixonada pela história, já revi mil vezes e cada vez que (re)assisto, eu me apaixono um pouco mais por uma parte da história, por uma personagem, por algum detalhe que passou batido nas outras vezes. Ao mesmo tempo, é meio assustador o quanto a gente se identifica com a história que está sendo narrada. As angústias de ver o planeta sendo destruído e não conseguir agir, o medo de ameaças e retaliações, a garra pra continuar na luta e, acima de tudo isso, a cumplicidade e o companheirismo que criamos com quem luta do nosso lado.
Mesmo sendo ficcional, a série é completamente atual e, a partir dela, é possível pensar em diversos temas candentes (mas relaxem que aqui não vai ter nenhum spoiler). Como eu disse, na primeira temporada, o tema principal é o garimpo ilegal, a extinção de reservas indígenas, a contaminação por mercúrio. Muito semelhante ao horror que nós acompanhamos no começo desse ano, na Terra Indígena Yanomami. Inclusive, nem só de tragédias eu vivo, trago boas notícias: na primeira semana de junho, o desmatamento zerou na TI Yanomami. É a prova concreta da importância de se combater o garimpo ilegal.
Já na segunda parte, nós acompanhamos a história da cidade fictícia de Arapós, um pólo das indústrias petroquímicas, que, na teoria, conseguiu se tornar um exemplo de sustentabilidade e desenvolvimento combinado com proteção ambiental. Porém, ao longo da trama, nós descobrimos que a verdade não é bem essa, e a cidade tem vários problemas graves.
Quando eu assisti essa temporada, lembrei muito do caso do Polo Petroquímico de Capuava, que fica no ABC Paulista e que foi, inclusive, investigada por uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo que buscava entender se o pólo era responsável pela contaminação de moradores com diversas doenças, principalmente, a tireoidite de Hashimoto, que vinha acometendo diversas pessoas.
Por fim, é interessante como, também na segunda temporada, as Aruanas são forçadas a enfrentar uma CPI das ONGs, bem parecido com o que está acontecendo agora com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o MST. Inclusive, todo o apoio a esse movimento social fantástico, responsável pelo reflorestamento de diversas áreas e pela produção de comida de forma sustentável e sem veneno.
A série é incrível, recomendo muitíssimo. Faz a gente parar pra pensar, se revoltar, se emocionar, se angustiar e viver todas as mil emoções junto com aqueles personagens. É o dia a dia dos ativistas representado de maneira bonita e realista.
Aruanas tem duas temporadas e está disponível para ser assistida no Globoplay, serviço de streaming da TV Globo.
Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental