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Percalços num laboratório da USP, desespero e esperança

por | 18 nov 2022

por Thaciana de Sousa Santos

De repente, o aroma agradável de fio queimado se espalhou pelo ambiente, conta colunista

 

Sumi um pouco, mas voltei. Eu realmente queria vir aqui dizer que está tudo bem na faculdade. Mas não está. Nessas últimas semanas veio o temido choro de desespero e aconteceu no meio da aula. A professora estava lá, dando o conteúdo de termodinâmica e eu estava chorando, não aguentei nem esperar até chegar em casa.

 

Como eu já falei para vocês (eu acho), mas vou falar de novo, nós temos aulas de laboratório e fazemos alguns experimentos durante o semestre. O nome da disciplina é física experimental e ela acompanha os conteúdos da disciplina física (ou deveria). O segundo experimento proposto pela disciplina tinha a ver com elétrica (matéria de física 3) e o professor estava superconfiante de que tudo daria certo, né? Deu certo para todos os grupos, menos para o meu, e eu não imaginava nada diferente disso.

 

Foram-nos dados algumas resistências, uma fonte, multímetros – um que seria usado como voltímetro, para medir a voltagem, e outro amperímetro, para ampères – e os cabos. Tinha um circuito bonitinho para a gente montar que, em tese, seria fácil se a gente soubesse. O Giovanni, o amigo da faculdade de quem já falei um pouquinho, montou o circuito e, na hora, lembrei da bendita resistência de proteção, comumente chamada de fio-terra. Eu não sei se ele achou que não precisava ou sei lá, sei que ligou a fonte de tensão e começou a sair fumaça do resistor. Depois a sala ficou com aquele aroma agradável de fio queimado.

 

E não para por aí não. Ainda conseguimos queimar o amperímetro (os técnicos do laboratório falaram que dava para arrumar, então tudo bem). Aconteceu depois de todo o circuito estar montado certinho, com o resistor de proteção, quando ligamos a fonte e fomos ajustando as unidades de medidas que ficavam mais confortáveis nos multímetros. Fizemos às medições com o resistor de maior valor e passamos para o de menor. Mas aí vimos que havia algo errado, pois o amperímetro não estava medindo nada, só ficava no 0. Chamamos o professor e nem ele sabia o que estava acontecendo, então chamou um técnico, que também não sabia, e por fim, veio um outro.

 

Esse segundo técnico descobriu o que era: a tensão determinada no voltímetro estava muito elevada e o amperímetro estava numa escala muito baixa e deu curto-circuito. O certo é sempre colocar os dois multímetros na maior escala e ir diminuindo, caso necessário, não ao contrário, como estávamos fazendo.

 

Depois de muitas coisas queimadas, conseguimos fazer e não era difícil, mas enquanto no laboratório estávamos aprendendo isso, em física 2 estávamos aprendendo sobre dilatação térmica dos objetos e definindo calor.

 

Eu acho que arrasamos, claro que com contratempos, mas quem nunca queimou nada nessa vida, não é?

 

Foi só depois desse caos todo que eu chorei na aula. Em plena quarta-feira. Tanto que no dia seguinte nem fui assistir a aula, que era laboratório. O Giovanni sabia o que estava acontecendo, falou com o professor e, na semana seguinte, ele veio conversar comigo. Agora tem sido assim em todas as suas aulas: ele me incentivando a continuar, a procurar as psicólogas do Instituto de Psicologia, a fazer a triagem lá (se não fosse às 7:00 horas da manhã, eu até iria). Tem sido tão doloroso todo esse processo! Todos os dias duvido da minha capacidade, já pensei em trancar o curso, mas o professor fala de um jeito tão sereno, acredita tanto que eu sou capaz que, agora, eu também creio.


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

 

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