jornalismo, ciência, juventude e humor
Pedras no caminho

por | 14 jun 2022

Thaciana de Sousa Santos

A universidade sabe lidar com sua crescente diversidade?

Oi, gente. Tudo bem? Vi que voltaram, é muito saber que estão curiosos para acompanhar essa minha jornada. Essa última semana foi um caos total. Como falei no último texto, eu teria prova de Cálculo 1. Exatamente, teria. O professor está com covid e adiou a prova umas duas vezes, remarcou para segunda (para vocês, ontem).

Por sorte, tive tempo de estudar mais um pouco e tentar entender uma parte da matéria, é muita fórmula para pouco número. Mas vai dar tudo certo. Também tinha falado da provinha de Física 1, ainda não tenho a nota, mas espero tirar uma nota boa, porque as notas vermelhas só estão se acumulando.

Pensei muito no que falar, talvez continuar falando sobre a energia mecânica, aproximar esse conceito do nosso dia a dia. Desde a última semana eu estava pensando nisso, mas algumas coisas aconteceram e eu sinto que preciso compartilhar com vocês.

Como eu já disse, a física é um curso muito elitista. E por ser um curso elitista, as desigualdades raciais, sociais e de gênero estão presentes. A diferença de tratamento é uma linha tênue, que pode, facilmente, passar despercebida. Eu imaginei, sim, que seria difícil me adaptar lá como minoria. O que não imaginei é que no primeiro semestre eu já iria tomar esculacho.

Vou explicar para vocês o que aconteceu. Na segunda-feira (da semana passada, antes do texto sobre energia mecânica), um dos professores iria tirar algumas dúvidas sobre o conteúdo de colisões, resolver os exercícios em que alguém teve dúvidas, já que foram só 3 horas de explicações, e depois teria conteúdo novo. Tirou, sim, as dúvidas de quase todos, mas quando chegou o meu momento de perguntar algo, eu comecei a ouvir um sermão na frente da turma inteira.

Para detalhar melhor, eu e os meus amigos estávamos na salinha de estudos e tentamos fazer esse exercício, mas ele quase não tinha informações, então deduzimos que a resposta seria uma fórmula, já que não tinha números (apenas um número 4). Mas fomos ver no resultado e era um número, não uma fórmula. Ficamos sem entender nada, tinha a resolução, olhamos, mas nada fazia sentido.

Como não conseguimos fazer esse, eu resolvi perguntar na aula, aproveitei que o professor estava tirando as dúvidas e esperava que, pelo menos, me desse uma luz, explicasse como eu deveria analisar o sistema inteiro. Mas isso não aconteceu.

Primeiro, começou falando que eu já deveria ter aprendido a estudar sozinha e precisava tentar fazer (supôs que eu não tentei), que tinha esse exercício em um livro didático, para dar uma olhada lá. Disse também que eu deveria pensar em algo em duas dimensões, não em uma, porque não daria certo. Por fim, comentou que não adiantava esperar que o professor resolvesse tudo por mim.

Quem me conhece sabe que eu tenho o famoso pavio curto, e eu já queria rebater na mesma hora. Mas me senti tão fragilizada e indefesa que apenas levantei e fui ao banheiro. Engoli o choro, porque não valia a pena. Mesmo com essa bomba que estourou, alunos do coletivo negro da física estão me apoiando muito. A Ana, eu acho que ela é presidente do coletivo, escreveu um texto para enviar à comissão coordenadora do bacharelado em física para tentar conversar e mostrar que existem pessoas que não estudaram em escolas particulares renomadas.

Essa é a minha deixa. Me despeço de vocês aqui e espero ter novidades melhores para a semana que vem. Mas antes de ir, gostaria de fazer um pedido. Lutem pela igualdade racial, de gênero, de tudo quanto é tipo de igualdade, porque o mundo precisa estar melhor para as gerações que virão.


Thaciana de Sousa Santos é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

Compartilhe:

Colunistas

Luiza Moura

Luiza Moura

Thaciana de Sousa Santos

Thaciana de Sousa Santos

Vinicius Almeida

Vinicius Almeida

Acompanhe nas redes

ASSINE NOSSO BOLETIM

publicidade