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Os verbos acolhedores do coletivo

por | 28 jun 2022

Por Thaciana de Sousa Santos

Colunista reflete sobre a importância do coletivo negro do Instituto de Física da USP

Agora no final do semestre, não tenho muito o que compartilhar sobre a vida acadêmica em si. Estou recuperando as notas em Física 1, quarta-feira tenho a minha última prova dessa matéria, depois só a de recuperação. Em Cálculo 1, está meio complicado, mas estou dando um jeito.

Eu contei para vocês sobre um momento bem chato que vivi na faculdade com um dos professores e como então o coletivo de alunos negros me ajudou muito, tentou ao máximo expor o lado de alunos menos favorecidos e mostrar que não existem apenas alunos que já sabem de tudo.

Hoje eu vou contar um pouco sobre esse coletivo. No mar de tanta notícia triste que tivemos nessa última semana, houve uma que os estudantes negros da USP e vestibulandos puderam comemorar: foi implementada a heteroidentificação na banca da Fuvest, para acabar com os casos de fraude nas cotas.

Agora não basta apenas se autodeclarar preto, pardo ou indígena, terá uma banca que confirmará isso. Os casos de fraude existem, nos cursos mais concorridos, pessoas brancas estão, novamente, excluindo as pessoas de cotas, roubando as suas vagas. Essa luta de todos os coletivos negros da universidade valeu a pena. Não teremos mais fraudes, e eu espero que os 193 casos que estão em investigação sejam resolvidos.

No Instituto de Física, o coletivo se chama Sônia Guimarães, a primeira doutora negra em física, e o nome não poderia ser outro. As cotas na USP são muito recentes, entrou em vigor em 2018, depois de muita luta contra. A USP foi a última universidade pública no Brasil a adotar esse sistema. Apesar de serem pouquíssimas as vagas, é um passo importante, e os alunos que fundaram esse coletivo fizeram e ainda fazem história.

A física Sônia Guimarães, no evento “Mulheres negras pautando o futuro” (foto: Olabi Makerspace – CC BY-SA 2.0)

Com a volta ao presencial, eles não conseguiram acolher os alunos ingressantes como queriam e estão tentando ao máximo mudar essa situação. Mas me acolheram, sentiram a minha dor e fizeram o que puderam para me ajudar.

A Ana Clara de Paula Moreira e o Marcelo Marcelino de Carvalho, estudantes do 3º ano do bacharelado, me acolheram desde o primeiro dia, me mandaram mensagem. O Marcelo é monitor de Física 1 e me deu dicas para conseguir estudar, aprender, e as notas boas estão vindo. A Ana Clara me inspira, faz várias iniciações científicas, apareceu até no Estadão. Quando contei o que aconteceu, ela logo se prontificou a me ajudar.

Existem dores que apenas quem passou entende, e eles me entenderam. O coletivo não busca fazer revolução na raça, com força, mas acolher e cuidar do sentimento do outro. Lutar pelos seus e deixar – nem que seja 10% – melhor para quem virá no próximo ano. E eu espero poder fazer o mesmo para os próximos calouros.

Eu me despeço aqui, cheia de alegria e esperanças de um futuro melhor.


Thaciana de Sousa Santos é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

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