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O rei das pistas

por | 6 jun 2025

Luiza Moura comenta a influência do petróleo na Fórmula 1

ilustração: Kairo Rudáh

Costumo brincar por aí dizendo que eu tenho um sério desvio de caráter no meu perfil de ambientalista e ativista socioambiental: eu gosto muito de Fórmula 1. Mas sou fã mesmo. Acordo de madrugada pra assistir as corridas que são do outro lado do mundo, acompanho religiosamente os treinos livres, a qualificação e a corrida principal. Conheço todos os pilotos, todas as equipes, todos os pilotos reservas e, se me sobra tempo, acompanho até as categorias de base.

Quando conto para as pessoas que sou uma ambientalista fã de Fórmula 1, a reação costuma ser de choque e até de indignação. Uma coisa meio “nossa, sério? mas e o carbono? e o petróleo?”. E sim, eu sei, o grande rei das pistas hoje não é Sir Lewis Hamilton, apesar de ele ser o maior de todos os tempos. O rei das pistas, hoje, é o petróleo.

As empresas petrolíferas e até mesmo países que têm esse recurso natural como base da sua economia têm ganhado cada vez mais espaço na Fórmula 1. Seja nas equipes ou até mesmo nos circuitos. Atualmente, quatro circuitos importantes da principal categoria do automobilismo acontecem em países cuja base econômica é o petróleo: Bahrein, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Vale dizer aqui que circuitos tradicionais da F1 estão perdendo espaço e sendo cancelados enquanto essas novas pistas, em países petrolíferos, estão se projetando como a nova tendência do esporte. Não tenho dados para afirmar, mas certamente o dinheiro do petróleo ajuda a pagar as contas, altíssimas, que são necessárias para incluir uma corrida nesses países.

Mas não é só aí que o petróleo está envolvido na Fórmula 1. A Aramco, petroleira estatal da Arábia Saudita, reconhecida como a maior empresa petroleira do mundo, é uma das principais patrocinadoras do esporte. A Aston Martin, por exemplo, equipe que tem o bicampeão mundial Fernando Alonso como um de seus pilotos, na realidade se chama Aston Martin Aramco Formula One Team. Ou seja, a petroleira, que é a principal patrocinadora do time, é tão relevante que até no nome da equipe ela está.

Mas, novamente, não paramos por aí. A Aramco é também uma das patrocinadoras globais da Fórmula 1, tendo seu nome exposto na lateral de vários circuitos como o da Espanha, os dos Estados Unidos da América e mais recentemente, claro, o da Arábia Saudita.

Olhar esse cenário é bastante desesperador. Em meio à crise climática, é assustador perceber o quanto o petróleo e o dinheiro do petróleo continuam influenciando os mais diversos aspectos do mundo. A Fórmula 1 é, para mim, um entretenimento e uma forma de me divertir, em tempos em que o mundo anda difícil. Mas é claro que, como ambientalista, acho que é urgente pensar em combater o lobby do petróleo e das petroleiras, inclusive dentro do esporte que eu amo tanto.

A real é que, como eu disse no começo, atualmente o verdadeiro rei das pistas não é Lewis Hamilton, não é Oscar Piastri e não é nem Max Verstappen. O verdadeiro rei das pistas é o petróleo que continua a lucrar bilhões de reais enquanto o planeta aquece e nós sofremos as consequências.

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