jornalismo, ciência, juventude e humor
O petróleo é nosso?

por | 28 maio 2024

Plataforma P-51, na costa de Macaé – RJ, em 2009 (foto: Divulgação Petrobras / ABr)

Nas últimas semanas, a Petrobras voltou a ser um assunto bastante comentado nos grandes jornais e telejornais por aí. A demissão de Jean Paul Prates e a nomeação de Magda Chambriard foram comentadas por vários ângulos: a questão econômica, a questão dos dividendos, a tal da lógica do mercado. Porém, nos últimos dias, quando o assunto esteve em alta, senti falta também de ver a questão ambiental — e socioambiental — ser comentada com seriedade. Acho que chegou o momento de questionarmos: qual é o papel da Petrobras? O que pode ser a Petrobras? É possível vislumbrar um projeto para a estatal que seja voltado para a transição energética justa e sustentável?

Não estou, nem por um momento, defendendo a ideia de uma Petrobras privatizada. Também não quero cair em um discuro nacionalista — que eu considero tosco — de que “o petróleo é nosso” – o petróleo é da natureza. E ponto final.

Sendo justa, vi alguns jornais e alguns veículos de imprensa abordarem, de forma ainda superficial, a questão ambiental. Mas em uma cobertura ainda muito focada na figura de Magda Chambriard, que publicamente defendeu a exploração de petróleo na foz amazônica. Não vou nem entrar nessa discussão neste texto, já fiz outras colunas para o Ciência na Rua comentando sobre o quão absurdo é sequer cogitar essa ideia de abrir mais frentes de exploração deste recurso natural.

Também não vou aqui, passar pano para o ex-presidente Jean Paul Prates. Vale lembrar que ele chegou a dizer que o Brasil deveria explorar petróleo até se tornar um país desenvolvido. Mas, não quero ficar em uma discussão personalista neste momento, apesar de entender que essas duas figuras da política brasileira podem e devem ser cobradas por seus discursos claramente omissos e desesperadores, em relação à exploração de petróleo e seus impactos para com a crise climática global que já enfrentamos.

Acho, porém, que o que falta neste momento é uma discussão séria, profunda e com base em dados sobre o que é a Petrobras. Que tipo de empresa queremos que seja a Petrobras? É inegável que uma empresa que explora petróleo tem muita contribuição para o atual estágio da crise climática que enfrentamos. Já passou da hora de discutirmos, a sério, a possibilidade de a Petrobras ser transformada em uma empresa de energias renováveis. Esses dias vi um post do Observatório do Clima, que discutia sobre como é, sim, possível viver em sociedades que não dependem dos combustíveis fósseis. Ou seja, é possível. Até quando vamos ficar insistindo em um modelo falho, fracassado e que contribui diariamente para a destruição das formas de vida que conhecemos? Até quando insistiremos em retirar da terra algo que não nos pertence? O petróleo, e outros recursos naturais, não foram feitos para servirem aos interesses do ser humano, seu lucro (de alguns poucos).

A Ministra Marina Silva afirmou, há algum tempo, em entrevista ao Portal Sumaúma que, para ela, a Petrobras deveria ser uma empresa de energias renováveis. Vamos, mais uma vez, ignorar o que diz uma das vozes mais fundamentais na discussão climática global? Quantas vezes ignoramos Marina Silva e percebemos que estávamos errados?

Acho que já passou da hora de sermos um país que leva a sério a ideia, a proposta e a construção de uma transição energética justa, democrática e sustentável. Sem isso, não será possível sermos, de fato, um país referência na pauta climática nem será possível construir um futuro justo e digno para todas as pessoas.


A colunista Luiza Moura é militante da juventude do partido Rede Sustentabilidadde

Compartilhe:

Colunistas

Luiza Moura

Luiza Moura

Thaciana de Sousa Santos

Thaciana de Sousa Santos

Vinicius Almeida

Vinicius Almeida

Acompanhe nas redes

ASSINE NOSSO BOLETIM

publicidade