Luiza Moura*
Lewis Hamilton lançou projeto para aumentar quantidade de professores negros em áreas de ciência e tecnologia na Inglaterra
Você provavelmente já ouviu falar de Sir Lewis Hamilton. Sim, ele é tão incrível que em 2020 foi condecorado como cavaleiro pela monarquia inglesa. O piloto britânico de Fórmula 1 é considerado um dos gênios do esporte, é sete vezes campeão do mundo e, atualmente, participa de uma briga acirradíssima com Max Verstappen pelo título do mundial.
Além de ser extraordinário nas pistas, Hamilton também acelera fora delas. O piloto é o único negro entre os vinte corredores que compõem atualmente o grid da Fórmula 1 e, desde sempre, deixou seus ideais e lutas antirracistas muito evidentes e explícitos. Em 2020, no Grande Prêmio da Bélgica, após a morte do ator Chadwick Boseman que interpretava o Pantera Negra nos filmes da Marvel, Hamilton ganhou a corrida e subiu no capô de seu carro fazendo o gestto característico do personagem, com os braços cruzados sobre o peito, como uma homenagem ao primeiro super-herói negro das telonas. O piloto repetiu isso no pódio quando ganhou seu troféu. Também no ano passado, no Grande Prêmio da Toscana, Itália, Hamilton usou uma camiseta com os dizeres “prendam os policiais que mataram Breonna Taylor”, em memória de uma mulher negra assassinada a tiros por policiais nos Estados Unidos. E não para por aí, em setembro deste ano, Lewis compareceu ao Met Gala, um dos eventos de moda mais importantes do mundo. Lá, Hamilton comprou uma mesa e levou como acompanhantes jovens designers negros que merecem mais visibilidade e que haviam trabalhado em sua roupa.
Porém a sua iniciativa mais recente talvez seja uma das mais importantes. Em outubro deste ano, o piloto anunciou que estava iniciando um projeto que tem o objetivo de capacitar professores negros para dar aulas nas áreas de ciência, engenharia, matemática e tecnologia em escolas que atendam comunidades carentes na Inglaterra. Hamilton disse, em um vídeo publicado no instagram da Mission44, a fundação encabeçada pelo mesmo, que ele nunca se sentiu representado pelo que via na escola, porque não havia professores e colegas negros como ele, nem discussões a respeito do tema. Assim, a ideia de ter mais educadores negros em sala de aula pode trazer essa representatividade que falta às escolas britânicas.
Em outro post da fundação de Hamilton, aparece a seguinte afirmação: “[…] entre os 500 mil professores que atuam na Inglaterra somente 2% são negros, e quase a metade (46%) das escolas não possuem diversidade de raças em seu quadro de educadores”, conforme destacou reportagem da Folha de S. Paulo. É interessante observar também que o piloto elegeu para seu projeto áreas do saber que são tradicionalmente mais elitizadas, como matemática, ciências, tecnologia e engenharia – atualmente chamadas de STEM, na sigla em inglês – e que costumam ter majoritariamente homens brancos como atores principais.
Além disso, a iniciativa do piloto é fundamental para que crianças negras e não brancas se sintam representadas e entendam que elas podem chegar ao lugar mais alto do pódio, em qualquer área que desejarem. Lewis Hamilton afirmou, no mesmo vídeo da Mission44, que: “Eu era um dos cinco ou seis alunos não-brancos, então não tínhamos nada sobre figuras negras. Era muito difícil sentir que sentíamos pertencimento ali. Já tive professores que disseram ‘você nunca vai alcançar nada’, mas nunca acreditei nisso. Trabalhamos muito nos últimos 18 meses para isso. Todos merecem a oportunidade de ter uma ótima educação e uma ótima carreira”, declarou o piloto, em notícia publicada pelo Globo Esporte.
O projeto de Lewis Hamilton o leva, novamente, ao primeiro lugar também fora das pistas. A atitude do piloto é fundamental para que as ciências se tornem cada vez mais democráticas, inclusivas e representativas. E que venha o octacampeonato para coroar o patrão das pistas!
Luiza Moura tem 19 anos, é estudante de Relações Internacionais na PUC-SP, de História na Unifesp e fã de Lewis Hamilton